O exemplo que deu o Presidente da República eleito, Marcelo de Rebelo Sousa, ao convidar Eduardo Lourenço, um dos apoiantes de António Sampaio da Novoa na campanha às presidenciais, para integrar o Conselho de Estado, deveria contagiar o país. 

Este sinal de respeito, reconhecimento e apreço pelo trabalho desenvolvido deveria fazer o efeito de espelho sobre todos nós, e refletir-se numa postura mais cívica e educada de estar na esfera social.   

Por vezes, a vontade de brilhar leva a existência de faltas de respeito e quebras das regras de convivência, que não podem nem devem ter a nossa complacência. 

Os comportamentos políticos e cívicos dos portugueses, não deveriam reger-se pelas regras do grosseirismo e do atropelo, mas sim pelo respeito, consideração e confiança que devem sempre guiar a postura que cada um assume ao desempenhar determinado papel.

No trabalho em unidade, que exige consensos e que se constrói pela capacidade de erguer pontes e tecer redes com os fios dos máximos denominadores comuns, essa deselegância traiçoeira de, com ânimo fingidor, ir por trás tentar alterar o acordado, nos momentos onde ninguém conta que tal possa ocorrer, ainda é prática infelizmente muito comum, e que tem efeitos nocivos na confiança de quem se alinha em prol do bem comum. 

Todos queremos e falamos em iniciar ciclos novos e transparentes que contribuam para que todos  o país inteiro, possamos recuperar todo o tempo perdido, mas alguns não conseguem abandonar os velhos métodos, que resistem há muitos passados, e na primeira oportunidade não hesitam em fazer tábua rasa dos mesmos conceitos de boa fé.

Se quisesse transpor estas considerações ao universo do sector imobiliário, considerações aplicáveis a muitas situações que somos testemunhas, poderia dizer, por analogia, que parece estarmos condenados a viver num microcosmos de permanente tensão, na maior parte dos casos artificial, como aquele que marcou uma longa guerra entre inquilinos e senhorios, decalcada de maniqueísmos velhos.

A atitude nova na política, não se coaduna, e ainda bem, com essa bipolaridade que faz com que num determinado tempo e lugar se finja aceitar determinado denominador comum, já a pensar como, noutro tempo e noutro lugar, quando os outros não estão a contar que isso aconteça, será possível dar o dito por não dito.

O referido exemplo do presidente eleito Marcelo Rebelo de Sousa  ainda não está a frutificar como seria desejável, apesar dos tempos exigirem pontes, diálogos, transparência, frontalidade. Incluindo neste sector do imobiliário que muito pode e deve contribuir para o crescimento e o desenvolvimento de Portugal. Mas sem a deselegância de quem aproveita um momento que não é o dele, beneficiando da improbabilidade em ser rebatido nesse mesmo momento.

Esta é a marca de um passado que tão mau nome deu a certos políticos, a certos empresários, a certos trabalhadores. Esta é a marca de um tempo velho que resiste apesar de ninguém dizer que o quer manter. Este é o som – espero – do estertor do tempo velho, dessa oculta quinta coluna do tempo velho.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com 

Publicado no dia 10 de Fevereiro de 2016 no Público

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