A relação inquieta entre europeísmo e americanismo, para utilizar o título de uma comunicação apresentada, em Setembro de 2009, pelo professor Adriano Moreira, no Instituto de Estudos Superiores Militares, pode explicar a fragilidade europeia, relativamente à outra margem do Atlântico Norte, neste contexto de crise financeira que se revelou, mais claramente, com a falência do banco de investimento norte-americano Lehman Brothers.
Ao falar de identidades, o Prof. Dr. Adriano Moreira sublinha que “o americanismo, como paradigma de comportamento de um povo, é, antes de mais, um nacionalismo, com expressão em afirmações como internamente a do sonho americano, e externamente a de se tratar da nação indispensável nesta data do globalismo”. Nacionalismo unitarista que a Europa também ensaia, numa forma mais plural, embora ainda nos situemos muito longe da América que ao eleger Obama, pode, finalmente proclamar que todos os americanos são, finalmente, americanos.
Por analogia, quase podemos dizer que nem todos os europeus, deste nacionalismo plural que é a União Europeia, são já europeus, o que faz com que qualquer problema que afecte um dos estados membros da União Europeia, seja em Portugal, seja na Irlanda, seja na Grécia, seja na Espanha, afectará a própria União Europeia, no seu todo, mesmo que os líderes de alguns países considerados locomotivas deste espaço pensem o contrário.
Nestes tempos de crise financeira, marcados pela vontade das principais agências de rating, todas elas norte-americanas e com ligações umbilicais ao Fundo Monetário Internacional (FMI), sempre atentas aos mínimos pretextos para fazer valer os respectivos interesses, mais próximos dos Estados Unidos do que da Europa, há muita gente que se lembra da determinação de um líder europeu como De Gaulle, um dos grandes obreiros da autonomia da Europa face ao “proteccionismo” norte-americano, militarmente assumido na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO na sigla em inglês) .
Fazendo-me eco de muitos estudiosos que leio e admiro, está na hora da Europa centrar esforços de recuperação económica à luz dos seus próprios interesses, que não são sempre coincidentes com os dos norte-americanos, mesmo quando os Estados Unidos conhecem uma Administração, como a de Obama, que parece afastar-se da diplomacia do “big stick”, versão americanizada da diplomacia das canhoneiras, até no que à Economia diz respeito.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 5 de Novembro de 2010 no Sol