Há três meses, Portugal e o Mundo acordavam com as trágicas notícias causadas pelo temporal que assolou a Ilha da Madeira, fustigada por chuvas tão intensas, que a terra não conseguiu absorver nem encaminhar sem estragos.

Muitas destas vicissitudes ganham, quase sempre, maior dimensão pelo erro humano, nomeadamente no campo do urbanismo, quando fechamos os olhos a soluções precárias de habitação.

Os efeitos da fúria da Natureza sobre urbanizações que se acautelaram menos bem, podem ser, e muitas vezes são, trágicas, mas, mais trágico seria a incapacidade e a impotência para reagir e lutar contra as adversidades.

Sem prejuízo de uma reflexão alargada sobre a forma como construímos e reconstruímos cidades, num trabalho que também é de prevenção, importa sublinhar a extraordinária capacidade dos madeirenses para fazerem renascer a ilha.

Estive há pouco tempo no Funchal, e, testemunhei como as feridas, na pérola do Atlântico, parecem sarar mais depressa. São raros ou pouco visíveis os efeitos devastadores das chuvas de Fevereiro e a cidade recupera o seu ritmo.

Os transatlânticos que asseguram cruzeiros turísticos, voltam a fundear no Porto do Funchal, a cidade volta a estar cheia de turistas estrangeiros e a esperança na recuperação é já uma certeza visível a olho nú.

Esta confiança e esta capacidade de enfrentar desafios duros é uma verdadeira lição – a segunda lição da Madeira. A primeira terá sido a urgência, sentida aquando da catástrofe, em repensar o próprio urbanismo da ilha.

Sem cair na tentação do pecado da inveja – um dos pecados mais indesejados -, sinto que os portugueses da Madeira estão a dar um exemplo de estoicismo e tenacidade perante as vicissitudes, digno de ser relevado.

Seria bom que essa confiança, que essa serenidade activa para enfrentar os desafios mais duros, essa atitude que se infere quando chegamos à Madeira três meses depois das chuvas de Fevereiro, contagiasse  o resto do país.

Nós por cá, e a Madeira também, enfrentamos, no plano da Economia, desafios igualmente difíceis, posto que menos determinados pela Natureza, a exigir uma capacidade acrescida para aguentar e resistir.

Esta componente subjectiva da força anímica, da vontade de dar a volta às coisas, esta determinação colectiva, são fundamentais para vencer e para superar toda e qualquer dificuldade. Vala a pena ir à Madeira para a testemunhar.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 19 de Maio de 2010 no Público Imobiliário

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