O recente Salão Imobiliário de Portugal (SIL2012) teve, entre outros méritos, o de mostrar quão importante é, para o país e, por consequência, para o sector imobiliário, que algumas instituições do sistema financeiro possam continuar a mostrar a serena segurança das traves mestras, tão importante para acarinhar a confiança que todos nós precisamos de ter nestes momentos mais difíceis.

Entre os stands âncora do Salão Imobiliário de Portugal evidenciaram-se, naturalmente,  espaços de bancos na sua maioria sintonizados com o atual esforço nacional. Eu, que tantas vezes fui crítico em relação à banca, tenho de reconhecer que estas instituições têm vindo a dar passos no sentido de uma crescente defesa deste nosso sector, em parte ainda muito preso ao sistema financeiro, cientes de que tal atitude também interessa ao próprio sistema financeiro.

É que essa ligação, mantida pela dimensão do crédito imobiliário que foi sendo concedido nos anos 80 e 90 do século passado, num contexto muito diferente do contexto atual, está também na base de alguns dos problemas com que nos defrontamos hoje e a gerar fenómenos que, não sendo bem compreendidos nem bem solucionados, podem agravar muito mais a já difícil situação que vivemos nesta Economia de Mercado.

Refiro-me, concretamente, ao “boom” da aquisição de casa própria, incentivada sem qualquer prudência e sem outras alternativas de habitação, num fenómeno que endividou muitas famílias para lá do limite das taxas de esforço aceitáveis e que, hoje, está na base de muitas das dações de imóveis que se acumulam nas instituições financeiras como ativos indesejáveis.

Neste contexto, a lucidez passa pela renúncia das soluções fáceis de escoamento desses ativos imobiliários indesejáveis, como são as que apostam na desvalorização forçada desses mesmos ativos, renúncia que é uma das raras garantias  para evitar que se gere uma bola de neve com mais dações e mais desvalorizações, criando uma bolha imobiliária que, em verdade, os preços praticados no mercado nunca criaram.

Esta lucidez é própria das grandes instituições que transmitem segurança a quem se habituou a vê-las como pilares do sistema económico em que vivemos e queremos continuar a viver. Esta lucidez começa a afirmar-se na serena segurança das instituições que sabem ser âncoras dos mercados. 

Luís Lima

Presidente da APEMIP  Presidente  da CIMLOP

Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 19 de outubro de 2012 no Diário de Notícias

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