O medo, aquele medo dos enredos quase inocentes, dos milagres e das seguras casas de penhor, para reutilizar versos de um poeta português, o medo está a instalar-se entre muitos portugueses e alimentar-se, como sempre, de meias palavras, de situações insinuadas, de perigos potenciais que parecem poder arrastar-nos para um abismo que de facto assusta.

No dia em que escrevo estas palavras, as televisões passaram declarações de um senhor finlandês, com responsabilidades na Comissão Europeia, a dizer que a ajuda a Portugal tem de merecer a unanimidade dos países da União Europeia, sob pena de não poder ser concedida o que, potencialmente, poderá arrastar o nosso país para a insolvência.

Estas declarações, proferidas com a melhor das intenções pelo comissário finlandês Olli Rehn, eram essencialmente dirigidas aos novos deputados de Helsínquia onde existe uma força com peso político determinante, de posições muito críticas face a certas ajudas europeias para certos países da zona euro, Portugal incluído.

Mas ao passarem, sem qualquer mediação, para a população portuguesa, estas declarações de Olli Rehn, na verdade simpáticas para Portugal e para os interesses portugueses no quadro em que eles tentam encontrar uma solução, acabam sempre por ter efeitos colaterais, pelo menos no medo que geram junto de quem amealhou um pequeno ou médio pé-de-meia.

Que os principais actores políticos, sejam ou não dirigentes de partidos políticos, do arco do Poder ou do arco, por antítese, do contra-Poder, não queiram atravessar-se em entendimentos pré-eleitorais, sem crispações e com serenidade, entende-se, mal mas entende-se. O que não se entende é que se deixe passar informação por descodificar com o poder destrutivo das palavras simpáticas de Olli Rehn.

Tão importante como imprimir à campanha eleitoral claramente já em curso um estilo que não “inviabilize o diálogo e os compromissos de governabilidade de que Portugal tanto necessita”, é também combater alguma superficialidade informativa que, na ausência de uma mediação didáctica, possa gerar um medo ainda maior.

Deixar que se discuta, sem rigor e sem conhecimento aprofundado da situação, conceitos tão assustadores como bancarrota ou como insolvência, quando aplicados a um país, cria, seguramente, angústias muito grandes em muita gente, o que não facilita a criação de um clima de confiança como aquele que Portugal precisa.

Pedir unidade em matérias desta natureza não será, seguramente, pedir o impossível. É pedir apenas um mínimo indispensável.

Luís Lima
Presidente da APEMIP

Publicado dia 6 de Maio de 2011 no Sol

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