Há quase 150 anos, Abraham Lincoln, discursando em Gettysburg, na Pensilvânia, numa homenagem aos que lutaram na Guerra Civil dos Estados Unidos da América, fez votos para que “o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desapareça da face da terra”, consolidando a liberdade consagrada pelos países fundadores dos EUA, no princípio de que todos os homens nascem iguais. 

Às vezes, como nesse ano de 1863 para os norte-americanos, contabilizam-se muitas baixas em nome da defesa do que amamos, nomeadamente quando o objeto desse amor é a própria Nação (posta à prova de forma brutal como é sempre uma guerra entre irmãos) e a matriz soberana e livre que lhe dá o sentido pelo qual, não raras vezes, estamos dispostos a sacrificar a própria vida. 

A Batalha de Gettysburgo ficará para sempre como um dos momentos decisivos da jovem nação norte-americana, desde logo pelo número de baixas verificadas mas também pela inversão do sentido da própria guerra, ou seja, pelo inicio do fim do avanço dos confederados e pelo regresso da hegemonia política e militar das chamadas forças federais da União. 

Hoje, já muitas das guerras (mesmo civis) são completamente diferentes e não se desenrolam nos clássicos campos de batalha como o de Gettysburgo, hoje um cemitério de múltiplas romagens, símbolo maior dos sacrifícios sofridos pelos americanos, para assegurar que a ideia de Nação fundada em 1777, a tal do Governo do Povo, pelo Povo e para o Povo, não se desmoronasse. 

Hoje, as guerras desenrolam-se nos cenários económicos e são ganhas ou perdidas pela capacidade que as nações possam ter, ou não, de gerar riqueza e de a dividir, com sabedoria, pela população residente, num processo complexo que passa, por exemplo, pela disponibilidade, ou não, de meios que financiem essa mesma economia, financiando empresas e famílias. 

Nesta guerra pela recuperação económica de Portugal, condição sine qua non para que consigamos manter o Estado de Direito e o Estado Social que a Europa nos habituou, está a falhar a logística do financiamento. Às empresas e às famílias que são, como se sabe, a coluna dorsal, do mercado interno. E sem financiamento, o destino da nossa terra andará muito próximo da ideia de terra queimada. 

Por reconhecermos que é preciso fazer sacrifícios, também dizemos que é preciso assegurar as condições mínimas para que possamos superar estes momentos mais difíceis, numa chamada de atenção que é um grito pela urgência do financiamento que tem vindo a ser estrangulado. Financiamento sem o qual esta guerra que travamos pelo crescimento jamais voltará a ser ganha. 

Luís Carvalho Lima

Presidente da APEMIP

luislima@apemip.pt

Publicado no dia 20 de abril de 2012 no Sol

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