Há dias, uma jornalista que muito prezo e que é, reconhecidamente, alguém que conhece o mercado imobiliário, perguntava-me se o regresso de uma maior abertura dos bancos ao empréstimo para a habitação, e, se as descidas dos spreads, da Euribor e das taxas de juro não poderão, a prazo, voltar a gerar problemas neste mercado.

Ambos sabemos que, na perspectiva da procura que precisa de financiamento para adquirir casa própria, taxas de juro baixas são sempre uma boa notícia. Pessoalmente, pela minha idade e pelos anos que já levo de atuação neste mercado, sei também que os excessos verificados na urgência na procura de casa nos anos 80 do século passado não se reeditarão.

Como lembrei à jornalista que me questionou, há trinta anos, a “emergência” imobiliária  ocorreu com taxas de juro nos créditos à habitação que durante muito tempo estiveram fixadas na casa dos vinte e muitos por cento. Números hoje impensáveis  para quaisquer taxas de juro, mesmo num cenário de reajustamento que possa fazer com que essas taxas subam.

Acresce que algumas práticas do passado, com sobrevalorizações generosas dos imóveis a financiar (para cobrir outras despesas, do mobiliário novo ao carro novo) e com pouco rigor na avaliação das taxas de esforço das famílias, não são repetíveis e estão hoje rigorosamente salvaguardadas no interesse de todos os interessados, Economia do país inclusive.

Quando hoje registamos uma reabertura ao crédito para a habitação marcada também por uma baixa das taxas de juro podemos considera-la muito positiva para o mercado e devemos acreditar que uma tal tendência – corrigindo os cortes que neste campo tiveram de ser abruptamente feitos – está devidamente acautelada contra todas as variantes que possam ocorrer no futuro.

Neste mercado, como em tudo na vida, também somos capazes de aprender com os erros cometidos no passado. A aprendizagem obtida por esta via é uma das mais sólidas aprendizagens em qualquer esfera do conhecimento. Esta é, aliás, uma das mais fortes razões para acreditarmos no mercado imobiliário como um renascido pilar da nossa própria recuperação económica.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 04 de Maio de 2015 no Diário Económico

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