O primeiro dia em que um português pisou Terras de Vera Cruz, como na véspera tinha sido baptizado o Brasil, foi 23 de Abril de 1500, uma quinta-feira, pelas dez horas da manhã. Foi Nicolau Coelho quem, por ordem do capitão mor teve o privilégio desse histórico primeiro encontro.
“[Nicolau Coelho] Deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linha que levava na cabeça e um sombreiro preto. Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha pequena de penas vermelhas e pardas como de papagaio (…) “, escreveu Pêro Vaz de Caminha na Carta sobre o Achamento do Brasil que enviou a D. Manuel I.
As prendas portuguesas que Caminha identificou, eram monocromáticas – o barrete era vermelho e o sombreiro preto. Vermelho e Negro, as cores que no romance homónimo de Stendhal parecem corresponder ao vermelho da farda militar francesa da época e ao negro da batina eclesiástica. As prendas recebidas, tinham o profuso colorido da Natureza e das penas das aves.
À distância de 510 anos, o Brasil mantém a alegria e a luz que as cores vivas de uma Natureza viva sabem transmitir, contagiando a própria economia da potência em que se transformou, e, permitindo que Portugal, infelizmente ainda vestido de cores escuras, possa ensaiar um novo achamento das Terras de Vera Cruz.
Na verdade, está na hora que seja agora o Brasil a achar Portugal, no reconhecimento desta nossa localização privilegiada, na entrada ocidental da Europa, e na consciência, pela parte dos portugueses, que o centro do Mundo dos negócios deslocou-se um pouco mais para Sul.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 5 de Junho de 2010 no Expresso