A operação de recompra de Obrigações do Tesouro (OT), adiando por três anos o pagamento de parte da nossa dívida pública, numa operação que alguns consideram uma renegociação indesejável da dívida e outros apenas um alargamento dos prazos de exposição à nossa dívida por parte dos credores, esse adiamento será positivo se for para permitir que o país respire.

O país não pode viver com um saco de plástico enfiado na cabeça, na fronteira entre a ameaça de asfixia e o próprio sufoco. Com a transferência da obrigação de reembolsar tais dívidas de 2014 e 2015 para 2017 e 2018 o país ganha tempo, mas esse ganho só será positivo e compreendido se se repercutir na vida das populações, pelo alívio da austeridade.

Até o comissário europeu Olli Rehn, que se perfila como potencial sucessor de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia, diz “que os portugueses já não vivem acima das suas possibilidades” acrescentando que a Economia portuguesa voltou a terreno positivo, em parte pelo aumento das exportações, num progresso reconhecido – frisa – pelos mercados.

Este reconhecimento não é tão reconhecido internamente. Adiar o pagamento de parte da dívida, adiando também a decisão de optar por uma clara agenda de crescimento, sem dar, por exemplo, sinais claros de apostas consensuais, como a da Reabilitação Urbana torna tudo diferente. Há, como em tudo na vida, adiamentos e adiamentos, bem diferentes uns dos outros.

O que não pode ser adiado por mais tempo em Portugal, é o que se prende com o pão de cada dia e com o trabalho honrado e digno, “coisas que são do interesse público, não do interesse dos poderes anónimos que governam as finanças mundiais, e fazem da especulação imaginativa a sua especialidade, e do interesse privado o seu credo”, nas palavras do prof. Adriano Moreira.

Independentemente do senhor Olli Rehn poder considerar, ou não, que os portugueses já não vivem acima das suas possibilidades, quase a reescrever uma frase datada e batida, como a de Karl Marx na “Critica ao Programa de Ghota” – “de cada qual, segundo sua capacidade, a cada qual, segundo suas necessidades”.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 09 de Dezembro de 2013 no Diário Económico

Translate »