O que há de comum no que une o Rio a São Paulo, Madrid a Barcelona, Paris a Lyon, Lisboa ao Porto? Uma ponte aérea, ou seja, a existência de ligações aéreas regulares e frequentes, num vaivém que responde às necessidades de deslocação entre duas grandes cidades, separadas quanto baste para justificar o uso de avião mas não tanto que não seja possível garantir várias ligações, nos dois sentidos e a preços competitivos, todos os dias e a horas bem diversas.

Incluo neste rol de pontes aéreas a ligação entre Lisboa e o Porto mas, em boa verdade, nunca existiu verdadeiramente uma ponte aérea entre estas duas cidades, embora num passado não muito longínquo o número de voos diários a ligar Lisboa ao Porto era bem maior e a horas muito mais convenientes, quer para quem vive em Lisboa e precisa de ir ao Porto, esperando voltar no mesmo dia, quer para quem vive no Porto e quer ir à capital em condições idênticas.

Haverá sempre a dúvida, difícil de esclarecer, que se coloca quando pretendemos saber se é a existência de uma ponte aérea que potencia os negócios entre as duas cidades ou se é o desenvolvimento dos negócios nos dois polos em questão que obriga a que se crie essa ligação privilegiada. Seguramente que é possível encontrar argumentos de apoio a ambas as teses, mas independentemente da que possa vir a prevalecer a verdade é que o retrato das partidas e chegadas dos voos domésticos projeta parte da imagem do país no plano económico.

Neste ponto, tenho de lembrar que Michael O’Leary, CEO da Ryanair, a companhia de aviação de baixo custo irlandesa que “democratizou” as viagens aéreas entre os portugueses, prometeu recentemente ligar Lisboa ao Porto por apenas 10 euros se vier a conseguir negociar a entrada da Ryanair em Lisboa. No Porto, esta low cost desafia-se a aumentar o tráfego de 2,3 milhões para 4 milhões de passageiros/ano e para Lisboa promete gerar um tráfego de quatro milhões de passageiros em quatro anos. Os únicos voos diretos a ligar as cidades do Porto e de Faro pertencem-lhe e oferecem passagens a preços inferiores, em média, aos dos transportes rodo e ferroviários.

O turismo residencial no Algarve e o mercado algarvio de segundas habitações para a procura interna subiram com a abertura desta rota entre o Porto e Faro. A perspetiva da abertura aos voos low cost da viagem entre o Porto e Lisboa fará aumentar a oferta neste corredor aéreo e, quem sabe, potenciar uma verdadeira ponte aérea de ligações mais frequentes e a horas mais convenientes entre as duas principais cidades portuguesas.

A palavra não existe, mas o país está a precisar, urgentemente, de “aerodinamizações” desta natureza. Para que não regressem as “corridas” automóveis entre o Porto e Lisboa e para que o Porto não perca ainda mais importância.

Luís Lima
Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP – 
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 11 de fevereiro de 2013 no Diário Económico

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