No passado mês de Setembro, há cerca de meio ano, fomos visitados por um anjo, mais precisamente pelo senhor Angel Gurria, secretário-geral da OCDE, organização para a cooperação e desenvolvimento económico, que reúne 31 democracias de países desenvolvidos, entre as quais a nossa.
O Senhor Angel Gurria veio a Lisboa manifestar a sua preocupação pelas nossas contas públicas e, entre outros conselhos, defender uma subida do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), alegando que em Portugal, ainda há imóveis a ser tributados à moda antiga, o que, para ele, será pelo barato.
Reconheço, como à data também referi, que o Senhor Angel Gurria teve a amabilidade de considerar que as opções orçamentais de Portugal, então em discussão, estariam no bom caminho. Este anjo da OCDE aplaudiu o nosso esforço nesta matéria e limitou-se a pedir um pouco mais. Sangue e lágrimas, além do suor.
Ainda mal refeitos da passagem por Lisboa deste anjo, eis que um outro anjo, este feminino, se atravessa à frente de Portugal, sempre com aquele espírito de protecção que caracteriza os anjos da guarda. Só que não é da Guarda, é da Alemanha, e dá pelo nome de Ângela Merkel.
Felizmente que Dona Ângela Merkel é muito amiga e reconhecida a Portugal. Ainda há dias fez questão de sublinhar , cito, “os esforços corajosos de Portugal no sentido da estabilidade do euro, a nossa moeda forte e comum”. Sabemos que, tal como o Senhor Angel Gurria, também a chanceler estava a referir-se a sacrifícios.
E se há alguém que deve saber o que é isso de sacrifícios, esse alguém é Dona Ângela Merkel, a chanceler alemã que a Democracia Cristã recrutou nos ex-comunistas da antiga Alemanha de Leste. É que, a unificação alemã foi feita à custa de algum sacrifício, sem esquecer a sobriedade, pelo menos consumista, da espartana Republica Democrática Alemã (RDA).
Afinal, há anjos que têm sexo, mas entre o masculino e o feminino, venha o diabo e escolha, sendo certo que, é com aqueles dois anjos que nós corremos, precisamente, o risco de vender a nossa alma ao diabo. Se ainda fosse a dívida…
Luís Lima
Presidente da APEMIP
Publicado dia 9 de Abril de 2011 no Jornal de Notícias