Há uma canção portuguesa recente – que ainda ouvimos com alguma frequência a passar nas nossas rádios – que fala dos maridos das outras endeusando-os comparativamente aos próprios. Os maridos das outras não são brutos nem são feios, nem gostam da música que ninguém gosta pois são o arquétipo da perfeição ou o pináculo da criação.

Esta tentação de ver virtudes alheias para as comparar aos próprios defeitos, tantas vezes artificialmente exagerados para que a comparação seja mais eficaz não se faz, entre nós, só relativamente aos maridos, como na canção de – lembro-me agora – Miguel Araújo, um músico português bem conhecido cujo maior êxito foi precisamente “Os Maridos das Outras”.

Tal como na letra de “Os Maridos das Outras”, também às vezes andamos a proclamar que as casas dos outros é que são boas, e estarão num preço bom e aceitável, ao contrário das nossas que dizemos estarem caras, não serem tão boas assim, mesmo sabendo que é precisamente o contrário e que o nosso património construído é, comparativamente, melhor.

Na verdade, ao contrário do que aconteceu noutros países, como a Espanha ou os Estados Unidos da América, para citar apenas dois, em Portugal não houve qualquer bolha imobiliária de preços, olhando a partir do ano 2000, o que contempla sete anos antes da presente crise, despoletada em 2008 com a falência do Lehman Brothers.

Nesta realidade, que ninguém contesta pois ninguém a pode seriamente contestá-la, os denominados ativos que o sistema financeiro português foi acumulando não devem ser vistos como ativos sobrevalorizados, como acontece num quadro de bolhas imobiliárias, estando até, em alguns casos, subavaliados, como o tempo virá a confirmar.

Esta análise esbarra com o interesse de quem quer desvalorizar o nosso património construído para o adquirir ainda mais em conta. Não é por acaso que se diz que aqueles que possam adquirir imóveis sem necessidade de recorrer ao crédito e sem necessidade de liquidez a médio prazo o devem fazer agora com perspectivas de grandes lucros.

Isto diz-se e é perceptível até por quem tenha poucas noções de Economia, embora, estranhamente, também se diga que o valor do nosso imobiliário, nomeadamente daquele que “regressou” ao sistema financeiro, carece de reavaliação em baixa, interpretação profundamente errada de alguns alertas, com outro sentido, recentemente tornados públicos.

Os ecos mediáticos de uma palestra sobre a credibilidade e fiabilidade das instituições do Sistema Financeiro Português que o senhor governador do Banco de Portugal proferiu há dias em Londres, no Fórum Oficial das Instituições Monetárias e Financeiras, são um bom exemplo da imagem desfocada que uma má interpretação da realidade pode gerar.

Estão ainda presentes na memória, por terem sido muito recentes, as distorcidas interpretações sobre a necessidade de se reavaliar certos ativos em carteira, informação que foi de imediato e erradamente associada à ideia da inevitabilidade de uma desvalorização dos ativos imobiliários, o que de todo em todo não se justifica.

Entre nós, o património construído que se transformou em ativo das instituições financeiras que o receberam, está subavaliado e é um bem de potencial crescente valorização, sendo um stock que muito em breve será anulado face à significativa quebra na construção nova. É melhor marido do que o marido das outras.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 04 de Novembro de 2013 no Jornal i

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