A contrariar aqueles que sistematicamente estão atentos aos números da nossa suposta desgraça, o crédito imobiliário concedido em 2010 foi quase dez por cento superior ao concedido em 2009 e o valor do IMT (o imposto devido na hora das transacções onerosas), também subiu no ano transacto relativamente ao ano anterior.

Embalado na habitual onda pessimista, admiti que este crescimento do IMT, pudesse resultar do pagamento obrigatório do imposto, por parte dos promotores imobiliários, findo o período de carência, à semelhança do que acontece com o IMI, mas esta regra não se aplica à antiga sisa, salvo para as empresas de compra e venda de imóveis, cujo peso no mercado é menor, pelo que o aumento do IMT corresponderá a um aumento dos negócios.

Por outras palavras, no mercado imobiliário português, as transacções continuam a realizar-se, a um ritmo normal, por valores superiores aos verificados anteriormente e ao contrário do que acontece noutros mercados, alguns muito próximos, onde houve, de facto, quebra, em alguns casos acentuada, num contraponto à realidade portuguesa.

Nós, por cá, afinal, não estamos tão mal como nos pintam, o que deve ser interpretado como um eloquente sinal da maturidade do mercado imobiliário português, a funcionar de refúgio seguro a muito investimento, num quadro económico que não é, como todos sabemos, fácil, mas cujo epicentro não se localiza especialmente no sector do Imobiliário.

São os números, frios e rigorosos, que ditam estas considerações. E os números não mentem, embora possam proporcionar muitas leituras, algumas contraditórias, situação que não se aplica neste caso específico, que dá conta do crescimento de 2009 para 2010 das receitas do IMT e do crescimento do crédito imobiliário, concedido pela banca no mesmo período.

Dito de outra forma, em 2010 e relativamente a 2009, houve mais dinheiro disponível para movimentar no mercado imobiliário e o mercado gerou mais receitas fiscais para o Estado. Surpreendente para quem passou o ano a ler o contrário e a desconfiar dos poucos que, como eu, remamos contra esta crónica maré pessimista.

Para que conste e sem truques de magia, concluo que, afinal havia outra… realidade imobiliária… O que, especificamente neste caso da Economia Portuguesa, é mesmo muito bom.

Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP

Publicado dia 4 de Março de 2011 no Diário de Notícias

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