Os ditados populares já não são o que eram, e, hoje, é preciso revisitar alguns que necessitam de urgente actualização. É que já não há testos para todas as panelas nem chinelos velhos para todos os pés cansados. Isso foi chão que deu uvas, digo eu, parafraseando mais um anexim.
Quando, nos finais dos anos 70, Portugal começou a abrir-se aos níveis de desenvolvimento que marcaram a Europa no final da II Guerra Mundial, preparando terreno para o “boom” imobiliário dos anos 80 e 90, pensou-se que toda a panela encontraria um testo.
Construiu-se e vendeu-se, nesses anos dourados, como se não houvesse amanhã e na convicção de que, qualquer amontoado de caixotes ao alto para habitação encontraria interessado e comprador, como, realmente aconteceu nesse tempo irrepetível.
Desse tempo de construção, naturalmente apressada pelo facto de toda a gente querer ter uma casa, concretizando um sonho até então tido como impossível, estamos a herdar um conjunto significativo de imóveis “obsoletos” que merecem segunda oportunidade.
A consciência desta realidade marca, claramente o momento da transição do ciclo da quantidade para o ciclo das qualidade, em material de construção para o imobiliário residencial, e determina novos paradigmas de actuação para o sector.
Passo, com frequência, num certo lugar do Grande Porto onde, em tempos, existia um pequeno aglomerado de casas térreas, antigas, entretanto desocupado para dar lugar a meia dúzia de apartamentos encaixotados, em altura que agora envelhecem por estrear.
É um dó de alma para quem sabe que naquele empreendimento estão enterradas as poupanças de uma vida de um encarregado de obras que, um dia, sonhou tornar-se promotor e avançou cuidando que o tempo tinha parado no tempo em que todas as panelas encontravam um testo.
Construiu mais do mesmo quando, hoje, a oferta, neste sector do imobiliário, tem de se diferenciar pela positiva e, por vezes, até surpreender. E sem esquecer que já não é a oferta quem determina o mercado imobiliário mas sim a procura.
A oferta, neste contexto, tem de se auto-regular. A ilusão de que podemos continuar a criar na procura as necessidades que encaixam melhor na nossa oferta é um erro fatal. Só sobreviveremos se adaptarmos a oferta às necessidades da procura.
Estamos a falar – é bom sublinhar – de um produto que, para muita gente, é definitivo e único. De um produto que não pode ser substituído até ao infinito, como muitos produtos móveis, e de um produto que interfere com o próprio equilíbrio do planeta.
Por tudo isto é urgente descobrir antes onde estão os testos que as panelas procuram.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 22 de Janeiro de 2010 no Sol