Nestes tempos de reflexão obrigatória, lembro-me com frequência, de uma ilustração que vi, há alguns anos, no jornal “Le Monde” a sintetizar o triângulo fundamental para qualquer polo economicamente competitivo, no caso ilustrando uma realidade do Estado norte-americano da Carolina do Norte – um desenho, com o traço simples do conhecido ilustrador Pancho, que mostrava um edifício de três pisos, sendo o primeiro uma Universidade, o segundo um Centro de Investigação e o terceiro uma fábrica.

Esta receita, quando aplicada com rigor, foi quase sempre adequada aos objetivos pretendidos, desde logo, por criar condições propícias ao crescimento e ao desenvolvimento da região onde é aplicada. Foi a pensar num cenário desta natureza que Portugal apostou, nos últimos anos, na formação especializada (ao nível do doutoramento) de centenas de jovens universitários portugueses, muitos deles enviados para prestigiadíssimas universidades estrangeiras. Está pois na hora de colher esses frutos.

Esta ideia da aposta nos nossos melhores recursos humanos, para concretizar uma dinâmica de crescimento absolutamente indispensável, para que a nossa Economia volte a crescer e cresça em valores suficientes para que o país possa superar os desafios que se lhe colocam no quadro atual marcado pelo memorando de entendimento com os nossos credores mais diretos, foi, aliás bem sublinhada no Seminário sobre Construção que decorreu na passada sexta-feira no Auditório da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN).

Quem, por exemplo, também referiu esta realidade foi o Professor Félix Ribeiro, um economista de renome, posto que pouco conhecido do grande público, um estudioso que foi um quadro superior do Ministério da Economia, cargo em que atingiu a idade da aposentação, e que há cerca de dois anos concedeu ao jornal Público uma notável entrevista sobre a nossa realidade económica que alguns leitores ainda terão na memória, pelo menos pelo título de primeira página a dizer que a Alemanha quis pregar um grande susto à Europa.

O seminário sobre a Construção em Portugal e no Mundo que a AICCOPN organizou de parceria com a Associação de Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), e que foi aberto pelo Senhor Secretário de Estado Adjunto da Economia, Dr. António Almeida Henriques, foi um momento de reflexão oportuno sobre o nosso próprio futuro, que depende, e muito, da capacidade que possamos vir a ter no que respeita a crescimento.

E como também lá foi dito e é reconhecido, nunca houve, em Portugal, nos tempos modernos, crescimento sem construção e sem obras públicas, razão mais do que suficiente para que a definição estratégica do quadro adequado à Reabilitação Urbana e ao Arrendamento Urbano não possa esperar sob pena de ser assumida tarde demais. Infelizmente, sou obrigado a lembrar que algumas condições para um efetivo e necessário crescimento ainda não estão a verificar-se, o que é deveras preocupante.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 25 de Janeiro de 2012 no Público

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