A julgar por algumas reticências que têm vindo a público contra certos investidores de certos países que, para certos críticos, terão certamente enriquecido de forma ilícita, nós, por cá, parece que só queremos receber o investimento de ricos que também sejam altos, loiros e tenham olhos azuis.

Há um certo elitismo, mal disfarçado, quando não até alguma dose de xenofobia nestas dúvidas sistemáticas contra o investimento estrangeiro, em especial contra o investimento estrangeiro que nos chega de cidadãos provenientes de economias emergentes de países terceiros.

Para alguns críticos, investidores estrangeiros, nomeadamente no imobiliário e com investimentos suficientemente volumosos para poderem beneficiar das autorizações de residência associadas a estes investimentos, só podem ser máquinas de branqueamento de dinheiro ou de outra roupa suja.

Estas ideias preconcebidas, quase pavlovianas, não casam bem com os princípios que devem estar sempre presentes no Estado de Direito, onde todas as pessoas, mesmo aquelas sobre as quais possam recair suspeitas, são sempre inocentes até prova em contrário e não o contrário como parece que alguns quererão.

A quem olha com esses olhos os investidores estrangeiros que não contemplam os superiores critérios de aparência exigidos pelas doutas cabeças que andam por aí a lançar avisos contra os malvados que querem invadir-nos e conquistar-nos com dinheiro sujo, pergunto se não pode também haver investidores sérios.

Gente que pura e simplesmente queira fazer investimentos em mercado como o nosso que oferece, em sectores como os da construção e do imobiliário, reconhecidas oportunidades de investimento, seja pela ausência de qualquer bolha imobiliária, seja pelo visível potencial de crescimento?…

Terão estes potenciais investidores de fazer prova prévia da respectiva honestidade para satisfazer as exigências de uns certos puristas, tão radicais como aqueles que, noutras épocas e noutros contextos, olhavam para os americanos e diziam que todos os ianques eram da CIA até prova em contrário?

No meio desta febre contra algum investimento estrangeiro que entra em Portugal vindo de países que no passado não investiam ou investiam menos, há vozes serenas e lúcidas, como a do Eng, Mira Amaral, que publicamente revelam a importância desse movimento e o que ele significa para a nossa economia.

Em consequência – no que eu aliás estou inteiramente de acordo – é expectável que saibamos, como é nosso timbre, receber bem quem confia em nós ao ponto de arriscar investir no nosso país, o que não significa qualquer prejuízo para o cumprimento das regras que presidem a estes movimentos de capitais.

Os excessos de zelo a tocar as raias da xenofobia, podem, como outras vozes lúcidas já alertaram, inviabilizar um investimento muito importante para a nossa economia. Não esquecendo que viabilização deste fluxo implica, como se depreende, também uma oferta que garanta retorno a quem investe.

Não é fácil atrair investimento estrangeiro mas é fácil afastá-lo.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 07 de abril de 2014 no Jornal i

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