A maior cheia do Douro teve lugar há quase doze anos, já depois desta estrada fluvial estar perfeitamente controlada, e ocorreu a 8 de Janeiro de 2002, quando o rio chegou à câmara. É, obviamente, uma piada que circulou logo após a tomada de posse de Rui Rio para o primeiro mandato como presidente da Câmara Municipal do Porto, posse que teve lugar naquele dia de Janeiro.

No Porto, nas eleições autárquicas de 2001, a candidatura do socialista Fernando Gomes (que já tinha sido presidente da câmara, tendo renunciado para ir para o Governo) era dada como vitoriosa, discutindo-se apenas a dimensão dessa vitória, ou seja, se seria ou não com maioria absoluta. O candidato Rui Rio parecia um nome que o PSD sacrificava numa corrida onde estaria condenado a perder. Não foi assim que aconteceu.

Doze anos depois, a vitória do independente Rui Moreira na corrida à Câmara do Porto, indisfarçavelmente apoiado por Rui Rio, apesar do candidato do PSD ser outro, volta a surpreender o país político, como surpreendente também foi o acordo posterior firmado entre Rui Moreira e o socialista Manuel Pizarro, cuja candidatura à Câmara do Porto foi a segunda mais votada.

Sinais de um novo tempo político, de um tempo de compromissos históricos, marcado por aproximações pragmáticas de políticos, independentes e filiados em partidos, aproximações que não renegando as respectivas matrizes, algumas mais marcadamente ideológicas do que outras, provam como no espaço das gestões das cidades, é possível encontrar pontos de convergência que perspectivam as cidades como possíveis locomotivas do desenvolvimento.

António Costa, o socialista que foi reeleito Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, numa das maiores vitórias de sempre de uma única candidatura à capital, cuja cumplicidade com Rui Rio é conhecida, esteve na tomada de posse do novo presidente da Câmara do Porto, elogiando a coligação com o PS e sublinhando que os «partidos não se afirmam na mesquinhez e mediocridade dos aparelhos».

Na oportunidade, António Costa aproveitou o exemplo do Porto, um dos municípios que mais mensagens políticas novas deixou nestas autárquicas, para referir a necessidade que o país sente de unir esforços e dar as mãos no sentido de enfrentar os desafios que se colocam neste tempo de grande aperto.

A antiga, mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto poderá acrescentar agora, como novo título, o de ser também uma cidade “consensual”. Uma cidade que talvez esteja a apontar novos caminhos para a vida política em Portugal, e a confirmar essa ideia que tem vindo a ganhar força, segundo a qual uma das locomotivas para um desenvolvimento sustentado e sustentável do país passa precisamente pelo Poder Local e pelas grandes cidades.

O tempo dirá se estamos ou não a viver um momento de mudança de paradigma político em Portugal, indispensável ao nosso futuro e possível mesmo sem se trair as raízes ideológicas de cada um, desejavelmente livres.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 01 de Novembro de 2013 no Sol

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