Neste fim-de-semana, um amigo meu enviou-me, por email, três pequenos poemas cuja leitura me incomodou particularmente. Talvez por não ser um leitor que privilegie a poesia. O primeiro de Brecht, um poeta e um dramaturgo alemão pelo qual não nutro qualquer simpatia ideológica, mas a quem reconheço grande talento, dizia que começaram por levar os negros sem que ele se importasse, pois não era negro, e depois levaram alguns operários e de seguida os miseráveis, mais tarde uns desempregados, e, por fim, ele próprio. Neste ponto, disse o poeta, já era tarde, como não se importara com ninguém, ninguém se importou com ele.

O segundo poema, anterior ao primeiro, é de um poeta russo, Maiakovski, e é talvez ainda mais perturbador. “Na primeira noite eles aproximam-se // e colhem uma flor de nosso jardim. // E não dizemos nada. // Na segunda noite, já não se escondem, // pisam as flores, matam nosso cão. // E não dizemos nada. // Até que um dia, o mais frágil deles, entra // sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, // conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. // // E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada. “

Por fim, nesta antologia breve, o poema mais directo, de Martin Niemoller, poeta que se apresenta também como um intelectual ligado á resistência contra o regime no nacional socialismo alemão de Adolfo Hitler. Cito: “um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. // Como não sou judeu, não me incomodei. // No dia seguinte, vieram e levaram // meu outro vizinho que era comunista. // Como não sou comunista, não me incomodei. // No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. // Como não sou católico, não me incomodei. // No quarto dia, vieram e me levaram; // já não havia mais ninguém para reclamar… “.

No comentário que acompanhava esta antologia, o meu amigo lembrava que primeiro atacaram a Irlanda, esse país que já protagonizou um cantado milagre celta e que, por via das ligações privilegiadas que sempre manteve com os Estados Unidos da América, iria, muito provavelmente, resistir aos ataques, quiçá injustos. Depois atacaram a Grécia, naquela Europa que toca na Ásia Menor, encostada aos turcos. Berço da Democracia, é certo, mas vizinha de uns fundamentalistas barbudos que pouca confiança nos inspiram. Problema deles, terão dito alguns de nós, antes daquele murro no estômago que nos fez vomitar as tripas para um enorme balde de lixo.

E nem sequer podemos reagir porque eles fogem logo e vão bater noutros, na Itália, talvez também na Bélgica. Desconfio que esse bando voltará a aproximar-se quando atacar a Espanha. Talvez aí possamos retaliar a sério.

 

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 13 de Julho de 2011 no Público

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