Soube-se, por uma inconfidência de um dirigente de uma confederação empresarial, que a Troika estava, à data das negociações para o acordo que viria a ser denominado como memorando de entendimento, soube-se que a Troika é (ou pelo menos era nessa altura) favorável à reabilitação urbana dos centros das cidades. 

Quando estes encontros ocorreram, ainda estavam frescas na memória de quem se interessa pela vida pública e política em Portugal as decisões do Governo anterior, assumidas uma semana antes de apresentar a demissão, no sentido da dinamização do mercado de arrendamento urbano e da Reabilitação das cidades.

Estas decisões governamentais tinham, não apenas a legitimidade de um Governo que ainda estava no pleno gozo dos respetivos deveres e direitos (só depois de apresentar a demissão é que se transformou num Governo de gestão) como também o apoio de todas as oposições, sem grandes divergências quanto a esta matéria.

Defender o património construído é, como se compreende, algo de muito consensual, como consensual sempre foi a ideia da urgência de uma nova lei para o arrendamento urbano e incentivos à Reabilitação Urbana, opções que mereceram o entusiasmo de muito boa gente, incluindo profissionais de grande prestígio, alguns dos quais vieram a integrar o elenco do atual Governo.

A transversalidade da defesa destas opções, que não só acautelam a riqueza que fomos construindo nos últimos anos como constituem soluções muito importantes para salvar a nossa Economia pela dinamização do importante sector da Construção e do Imobiliário, a transversalidade deste consenso dá bem a imagem do que ele significa para o nosso país.

Defender, sem preconceitos, soluções assumidas por outros protagonistas revela um sentido de Estado e uma lucidez política exigíveis, com maior oportunidade, em momentos particularmente difíceis como os que estamos a viver no plano económico e social que marca o nosso presente com efeitos incontornáveis no nosso futuro.

Ninguém, em boa verdade, questionará estas semelhanças de opinião quanto ao que de melhor pode ser feito pelo país, semelhanças que só engrandecem aqueles que, vindos depois, são capazes de assumir o que merece manter-se como estava previsto, sendo essa, como é o caso, a melhor solução.

Lembro perfeitamente de ouvir de uma pessoa que aliás muito prezo e que mais tarde foi chamado para o atual Governo, lembro de ouvir a ideia de que a Reabilitação Urbana (dependente de um mercado de arrendamento mais dinâmico) é um dos raros comboios que a nossa Economia pode usar, neste contexto de dificuldades, nomeadamente no campo da disponibilidade de meios de financiamento. 

Estava, como aliás continuo a estar, perfeitamente de acordo com este diagnóstico, o que aliás acentua a minha preocupação, que é  também a preocupação de muita gente que trabalha neste sector, pelo facto de ter passado um ano sem que tivéssemos avançado neste campo tão consensual. 

Afinal pouco importará que haja consensos tão alargados se, mesmo assim, as soluções encontradas não avançam. Uma reflexão a fazer. 

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 21 de março de 2012 no Público

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