Há sensivelmente um ano, neste mesmo espaço, registava como memória das férias de 2012 que muitas das pessoas com quem me cruzara, no Verão passado, não tinham, apesar de o poderem fazer sem dificuldades, tido vontade para comprar uma toalha de praia nova, novos calções de banho ou apenas outros chinelos. No ano passado, muitos veraneantes abdicaram de estrear uma peça ou adereço de Verão novo, num leque de pequenos luxos consumistas para todos os preços.

Este ano, como também já registei, muitos portugueses continuaram a ir a banhos, de Sol e de água, alguns regressando ao velho e primeiro amor turístico que é o Algarve, mas o que fica deste Verão de 2013 para quem fez férias fora do local de residência habitual é uma estranha resistência a iniciar o regresso, como que determinada por uma vontade oculta em prolongar eternamente as férias ou, em alternativa, entrar em hibernação até à próxima Primavera.

Os sinais exteriores de prudência dos comportamentos de muitos de nós enquanto consumidores, sinais que marcaram o Verão de 2012 (e que se materializaram não apenas na renuncia a pequenos luxos consumistas mas também numa mais apertada escolha em matéria de restaurantes e outros locais de férias), tais sinais deram lugar, neste Verão de 2013, a uma incerteza quanto ao nosso futuro mais próximo que teima em empurrar-nos para uma quase desistência outonal.

Se as reservas de 2012 quanto a exageros consumistas podem ser virtuosas desde que não levadas a extremos tais que tenham efeitos negativos nos próprios mercados, esta apatia de fim-de-férias de 2013 é um sintoma de pessimismo que importa combater com determinação, sabendo-se, como se sabe, que o desânimo pode ser perigosamente contagiante. Parecer-nos-á mais fácil continuar no dolce far niente que embala as férias de muitos.

Diga-se, em abono da verdade, que as dinâmicas instaladas não são nada propícias a que encaremos o futuro com outra determinação. Quando julgamos que este pessimismo nacional vai mudar de rumo e gerar outras agendas e novas esperanças somos confrontados com retrocessos inesperados, em muitos aspetos e em muitos sectores.

Volto a fazer minhas as palavras de um antigo ministro deste Governo quando numa referência expressa ao medo do insucesso nacional, referiu-se ao otimismo como sendo uma palavra que parece anacrónica e desadequada, considerando mesmo que “afirmar que Portugal tem futuro parece não ser mais do que um exercício de retórica sem qualquer base real de sustentação.

Para este universitário – o ex-ministro da Economia Álvaro Santos Pereira – numa reflexão realizada quando ainda não era ministro, o Estado deve intervir decisivamente para tentar diminuir a amplitude da recessão e a volatilidade inerente às economias de mercado sem, no entanto, ignorar “que a força da economia portuguesa está no sector privado e não no nosso Estado”. 

Talvez seja este permanente adiamento nacional que faz com que neste fim-de-férias nos apeteça continuar a Sul, ou melhor, a leste de tudo, como que determinados a hibernar até à próxima Primavera que, no entanto, só florirá com o nosso próprio empenho.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 06 de Setembro de 2013 no SOL

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