Hoje, à hora a que esta edição do jornal Público começa a chegar às mãos dos leitores mais madrugadores, estarei, se tudo correr como o previsto, a chegar a Luanda, à frente de uma delegação da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), para participar no Salão Imobiliário de Angola (SIMA), salão onde a APEMIP tem stand próprio e salão que acolherá a cerimónia de constituição da Confederação do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa (CIMLOP), estrutura de cúpula do movimento associativo empresarial da fileira da Construção e do Imobiliário dos países que falam Português.

O primeiro Salão Imobiliário de Angola (SIMA), que abre amanhã e encerra no domingo, tem a mesma sigla do Salão Imobiliário de Madrid, cuja 12ª edição decorrerá neste mesmo mês de Maio, de 20 a 23, na capital espanhola, a 5750 quilómetros da capital de Angola, mas muito mais próximos se compararmos os objectivos destes espaços privilegiados de reflexão, que são as feiras temáticas, objectivos que passam, no caso presente, pelo trabalho de pensar e repensar o sector da Construção e do Imobiliário como vector chave para um desenvolvimento sustentado, dos espaços onde o sector quer e pode impor-se.

Nós, portugueses, que temos esta vocação de construtores de pontes, como esta longa que erguemos a ligar a Europa a África e à América Latina, num triângulo estratégico para as nossas Economias, sem a nostalgia da metafórica jangada de pedra que Saramago criou, imaginando a Ibéria a navegar para Sul, pelo Atlântico, nós, portugueses, não renunciamos à nossa condição europeia por nos reanimarmos com cores vivas de África e da América Latina. Daí que, o primeiro Salão de Luanda não nos faça esquecer o salão homónimo de Madrid, que também nos toca – e muito – por acreditarmos numa globalização com regras.

Regras, entre as quais, a de aceitarmos que o Norte não tem de ser mais rico do que o Sul nem, muito menos, beneficiário ilegítimo das riquezas do Sul, mas apenas, o que já é muito e o desejável, um parceiro em pé de igualmente, um igual entre pares, na certeza que a História nos tem ensinado, nas lições das muitas crises económicas que já atravessaram séculos, que o excedente é sempre, mais cedo ou mais tarde, dos que nada ou pouco possuem, na linha mais pura do pensamento de Santo Tomás de Aquino e sem por em causa, também no pensamento expresso deste filósofo, a legitimidade da propriedade privada e individual.

Num momento chave de solidariedades alargadas, como as que foram convocadas para ajudar a Grécia a enfrentar uma situação difícil, em parte gerada por alguns dos que agora cobram dividendos, num momento como este que estamos a viver e quando nos é proporcionado um espaço e algum tempo para reflectirmos sobre o nosso próprio futuro, tão importante como saber a que distância estão os dois salões imobiliários que adoptaram a sigla SIMA é, perceber quão perto devem e podem estar.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 5 de Maio de 2010 no Público Imobiliário

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