Numa mesa de amigos,  num dos muitos encontros desta rentrée, um amigo meu, ciente que todos os presentes ainda têm poder de compra para satisfazer alguns luxos, perguntou quantos de nós, neste Verão, compraram uma toalha de praia nova, novos calções de banho ou simplesmente outros chinelos?

Nenhum dos presentes, que noutros anos e noutras férias terão sempre estreado uma peça ou um adereço de Verão novo, confessou ter, este ano, continuado fiel a esses pequenos luxos do consumo que tornam mais alegres as férias de quem os adquire e, principalmente, ajudam a fazer mercado.

A esmagadora maioria dos portugueses que foi à praia, este ano, a banhos de Sol e ou de água, banhou-se com os velhos calções ou com os biquínis do ano passado, secou-se na toalha velha (que é de boa qualidade e ainda mantém as cores vivas originais) e usou os chinelos antigos que já estão feitos ao pé.

Pensando um pouco melhor, os encontros de amigos ou de negócios, em restaurantes, à volta de uma mesa , também estão a diminuir e até a escolha destes locais sagrados está a variar – agora não vamos tão longe e não nos preocupamos tanto com a quantidade de estrelas do destino. Sejam elas Michelin ou outras.

Quase inconscientemente, sem verdadeiramente darmos por isso, estamos todos a acumular sinais exteriores de prudência que correspondem a comportamentos, como consumidores, que contribuem para a retração da nossa Economia e que, se exagerados, podem ajudar a gerar ciclos viciosos recessivos graves.

Não advogo o consumo pelo consumo, nos exageros de certos consumismos sem sentido e quase doentios, mas tenho de sublinhar o exagero de sentido contrário, compreendendo-o à luz das preocupações do dia a dia sem, no entanto, perder a consciência dos efeitos nefastos do possível encerramento dos mercados.

Resistir, nestes tempos de tantos apertos, alguns dos quais de uma violência tal que fazem com que nos interroguemos sobre a respetiva justeza, é também resistir a renunciar à nossa condição de cidadãos consumidores, tão assustados com o presente que sejamos capazes de optar por um passivo auto-encarceramento que acabará por comprometer ou adiar outro futuro.

Os biquínis do ano passado ainda não terão passado de moda, algumas toalhas de praia mais antigas são de uma tal qualidade que as cores parecem sempre reabilitadas e há, realmente, chinelos que se adaptam de tal maneira aos pés que qualquer um nós poderá ter dificuldade em substituí-los. Mas o que realmente é muito difícil é reanimar mercados que eventualmente venham a cair.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 21 de setembro de 2012 no Sol

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