O tema do arrendamento urbano é, ultimamente e como se diz agora, um tema recorrente. Há mais procura de casas para arrendar, mas a oferta continua baixa… Se é verdade que há mais pessoas resignadas a optar pelo arrendamento urbano, não é menos verdade que não cresce o número daqueles que sonham viver dos rendimentos, que as respectivas propriedades imobiliárias urbanas lhes possam dar.
Sempre que sou confrontado com esta realidade digo que ninguém sonha em ser inquilino. Há quem não goste desta expressão, mas a verdade é que alguns inquilinos, daqueles que cumprem religiosamente e até ao dia 8, dito o dia de São Senhorio, a principal obrigação do arrendatário (pagar a renda), chegam a pensar, ao fim de décadas, que já teriam pago a casa se tivessem optado pela compra.
Há nichos de mercado para o arrendamento urbano e até há quem sonhe – realisticamente – com reabilitações de centros urbanos que possam potenciar o próprio mercado do arrendamento, visto também como um investimento seguro a médio e a longo prazo, isto é, um investimento com retorno suficientemente atractivo para que este mercado seja uma efectiva alternativa para investir.
Uma cidade com alma, cujo centro histórico seja reabilitado e regenerado à luz das actuais exigências, pode gerar um significativo nicho de mercado para o arrendamento urbano, se a própria cidade souber mostrar-se como destino turístico. Nos centros das grandes cidades europeias há uma crescente oferta de apartamentos susceptíveis de serem arrendados por períodos curtos, de dias, a satisfazer uma procura turística.
Tal oferta concorre, complementando a oferta de camas da indústria hoteleira, e é muito mais segura para o investidor do que a oferta no mercado de arrendamento clássico, principalmente num país onde a percentagem de inquilinos que deixam de pagar as rendas é relativamente elevada e onde a Justiça é lenta a responder aos incumprimentos de contrato.
A reabilitação e a regeneração do património imobiliário dos centros históricos, deve, obviamente, ser feita em função do novo destino a dar ao imóvel a reabilitar. As tipologias para o arrendamento turístico sazonal são muito próprias e diferentes das tipologias destinadas a uma ocupação mais alongada. A procura para uma ocupação curta em turismo residencial é, em regra, mais segura e mais rentável.
Por um fenómeno de compensação, o património imobiliário dos centros das cidades, grande parte do qual se degradou por força da descapitalização dos proprietários que sofreram o regime das rendas urbanas congeladas, pode renascer agora com a mesma vocação mas para uma procura muito diferente e com regras que geram menos riscos – a renda é sempre paga à cabeça e os arrendatários não querem prolongar a estadia.
Para a procura mais clássica “ter ou não ter é a questão”. E toda a gente quer ter, salvo, os estudantes universitários ou um ou outro político a prazo e deslocado da família…
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 14 de Outubro de 2009 no Público Imobiliário