As duas senhoras que aguardam na fila dos resgates soberanos, com esperança de poderem vir a ser dispensadas de tal inconveniente, são a Espanha e a Itália. Os exemplares banqueiros do Deutsche Bank já anteciparam, em projecção, o custo desses dois eventuais resgates, mas esperam que Madrid e Roma escapem do ataque.

Isto, apesar de haver quem diga que a Itália já estará sob a tutela do Banco Central Europeu (BCE), na sequência da intervenção do BCE no mercado secundário da dívida, uma intervenção considerada fundamental para evitar uma queda das finanças romanas. A Imprensa italiana diz que o preço desta inesperada ajuda traduz-se na imposição de um plano de privatizações e da revisão da legislação laboral italiana.

A Espanha – caso tenha de pedir de ajuda – precisará do triplo da verba  emprestada a Portugal e a Itália cinco vezes mais, mais euro menos euro. Números do Deutsche Bank, seguramente rigorosos ou não fosse a Alemanha uma das nações mais beneficiadas pela criação de moeda única do euro, razão pela qual se compreende esta imagem de quase altruísmo germânico que, às vezes, de forma incauta, acolhemos.

Estas notícias, conjugadas com as que estão a chegar, todos os dias, dos Estados Unidos da América, sempre no sentido de um abrandamento económico, são muito desfavoráveis a Portugal cuja nau navega quase à bolina, contra o vento e, principalmente, sem os motores do investimento público e da procura interna e sem grande possibilidade de fazer crescer a esperança portuguesa do aumento das exportações.

O vírus europeu das dívidas soberanas ameaça alastrar, situação que também pesa, além Atlântico, com a turbulência que os Estados Unidos vivem, desde que o pais deixou de ser a unidade padrão em matéria de fiabilidade financeira. As agências de notação norte-americanas mordem, simbolicamente, a mão que as alimenta, e o próprio presidente Barack Obama sentiu necessidade de proclamar a honradez em matéria de dívidas, insurgindo-se contra os cortes dessas agências.

Afinal, as duas senhoras que aguardam na fila não estão sozinhas, como sozinhos não estão Portugal, a Grécia e a Irlanda, o que só reforça a ideia da necessidade de atalhar globalmente este momento dos mercados.

Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 12 de Agosto de 2011 no Diário de Notícias

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