A necessidade de intervir neste setor do imobiliário e da construção implica, no atual quadro da nossa Economia, uma reflexão transparente e profunda que interiorize a justeza dessa intervenção e, principalmente, demonstre que ela é a melhor solução para o país.

Os esforços em desenvolvimento para criar um fundo de investimento, ainda por batizar, que avalize a dívida à banca das maiores empresas portuguesas do setor, devem ser assumidos equacionando o risco que pode resultar para a Economia pelo facto de se cativar verbas tão elevadas.

O fundo terá de mobilizar centenas de milhões de euros, talvez mesmo mais de mil milhões, verba sem dúvida muito grande para uma única componente do setor, especialmente se tal mobilização esgotar as parcas verbas disponíveis para o financiamento de toda a nossa Economia.

As próprias instituições financeiras envolvidas nesta operação, muito importante para alguns segmentos deste mercado estão, seguramente, conscientes que aquilo que realmente se pretende com uma operação desta natureza só é alcançável se houver financiamento para toda a Economia.

Ainda sem perspetivas de faturação no mercado interno, as empresas que possam vir a beneficiar desta receita, prescrita num cenário preocupante de dívidas consolidadas na banca nacional, em montantes superiores a 40 mil milhões de euros, sabem que a solução exige ainda outras medidas.

Neste arquipélago constituído por muitas ilhas que correspondem, simbolicamente, aos diferentes setores económicos de um pais, é impossível criar boas condições apenas para uma dessas ilhas deixando todas as outras à mercê das tempestades que têm assolado este nosso mar. 

Todas as intervenções que visem animar a nossa Economia devem ser equacionadas. Mas importa fazer uma avaliação rigorosa das vantagens e dos riscos de que proposta concreta e, principalmente, aplicar as eventuais soluções com pinças e cuidados cirúrgicos.

Um erro em toda e qualquer operação de risco não se refletirá apenas na área onde está a ser executada. A nossa Economia é um arquipélago de muitas ilhas mas também um corpo único que só está bem se todas as partes estiverem bem e que para estar mal pode bastar que uma das partes esteja doente.

Com os mesmos cuidados que reclamo para as intervenções de emergência que a nossa Economia possa requerer, aplaudo a notícia que dá conta da possível colocação, em cuidados intensivos, de uma área significativa do setor da construção e do imobiliário, mas lembro que há outros setores a necessitar de cuidados idênticos, eventualmente de menor dimensão.

O dilema de uma Economia poder ser ou não um poço com fundos é uma das questões que merece reflexão.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 24 de fevereiro de 2012 no Sol

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