Com a desvalorização forçada do património construído, toda a gente, ou seja todo o país, perde, independentemente das razões que possam justificar essa atitude desesperada, tão mais desesperada quanto raramente garantirá o escoamento de ativos imobiliários indesejáveis, muito menos compensará perdas subsequentes a ganhos fiscais quase usurários ou oferecerá uma liquidez duradoura.

Como já disse noutro contexto, mesmo afrontando quem insiste na desvalorização forçada do património imobiliário (servindo reais interesses de capitais estrangeiros que espreitam as fragilidades alheias para multiplicar lucros), dizer não ao ditado “vão-se os anéis fiquem os dedos” é lúcido e corajoso. É que a seguir aos anéis e por termos deixado ir os anéis acabaremos a entregar os dedos.

Reforço esta ideia, que defendo há muito, para aplaudir a firmeza dos proprietários do Restaurante Mónaco (uma joia pela localização e pela subjetiva mais valia que ainda contabilizamos à conta da persistente memória daquele espaço de culto para a clientela mais exigente dos anos 60 do século passado), firmeza que transparece quando resistem a desvalorizar o espaço abaixo dos valores do mercado..

Aqueles mais de mil metros quadrados de terreno daquela que foi a curva mais famosa e perigosa da Marginal de Cascais, aquele espaço de culto para uma clientela de charme nem sempre discreto, mas de apurados e delicados gostos, aquele nosso Mónaco, ainda disponível, até legalmente, para renascer como espaço comercial renovado, não pode ser vendido em saldo.

Sem interferir nas eventuais negociações entre quem está disponível para vender e quem está interessado em comprar, numa potencial transação que está – e muito bem – a ser mediada por uma empresa de mediação imobiliária, sinto que a atitude dos proprietários do velho Mónaco, ausentes do estrangeiro, ao resistirem em entregar aquela joia a qualquer preço contribui para a valorização de todo o património construído.

E é também mais um sinal de que esta má onda da nossa Economia está a mudar e a inverter caminho agora no sentido de uma recuperação, mesmo que lenta, que já tardava. Sinto esta mesma sensação no Algarve, onde como sempre passo alguns dias de férias, e onde são visíveis alguns alívios no plano económico, numa viragem que ainda não justifica grande euforia mas que é já o início de uma viragem positiva.

Por maioria de razões, mesmo a precisar de obras profundas por estar há muito parado, o Restaurante Mónaco, nessa localização de luxo que é a Marginal de Cascais, a extensão mais elegante da nossa cidade capital, também ela um dos nossos grandes destinos turísticos, crescentemente em afirmação nacional e internacional, continua a ser uma das joias do nosso imobiliário turístico.

Ninguém pensa, nem mesmo o Estado Português, vender a qualquer preço o apartamento que possuía (ou ainda possui) no emblemático Edifício Dakota, essa joia da arquitetura de Manhattan, onde viveu e morreu John Lennon, na esquina da Rua 72 com o Central Parque. O velho Restaurante Mónaco, a precisar de muitas mais obras de reabilitação faz parte deste restrito clube das joias do imobiliário.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 16 de Agosto de 2013 no SOL

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