Sendo certo que os “eurobonds”, ou seja os ainda não existentes títulos de dívida europeia, não resolvem, só por si, os problemas com que as economias europeias se debatem em resultado, na maioria dos casos, de excessivos endividamentos, públicos e privados, dos países mais vulneráveis, a verdade é que um instrumento desta natureza disciplinaria, pelo menos, a imoralidade da discrepância dos juros, fixados ao sabor dos interesses dos prestamistas mais gananciosos.
Com a adopção deste instrumentos, reduzir-se-á o custo dos financiamentos das economias mais frágeis. Os riscos dos financiamentos requeridos pelos países da Zona Euro passariam a ser avaliados globalmente, os que faria descer significativamente os juros que os países mais endividados têm de pagar e subir os juros dos empréstimos contraídos por economias mais prósperas como será o casa da alemã, para citar a que mais se opõe à adopção deste instrumento.
Claro que não há “eurobond” capaz de cobrir os desequilíbrios resultantes da falta de competitividade nem de uma crónica balança comercial deficitária, isto é, por outras palavras, de um país que sistematicamente importa mais do que exporta, pagando mais ao estrangeiro do que recebe do estrangeiro. Mas se isso é verdade, também é verdade que a sua adopção está longe de ser uma solução errada, como Ângela Merkel quer fazer crer.
Numa linguagem de visão europeia muito limitada, a chanceler alemã diz que esta solução corresponde à criação de uma “união da dívida”, expressão que é um verdadeiro hino anti-europeista, tanto mais difícil de entender quanto a chanceler viveu na República Democrática Alemã, país que pesou deficitariamente no processo de unificação da Alemanha, preço inaceitável se estas questões se reduzissem ao deve/haver de algumas gestões primárias de micro empresas familiares.
A dimensão territorial e a vocação (comercial e não só) de uma moeda também contará. Aquelas libras de ouro que muitas avós ofereciam, e talvez ainda ofereçam, aos netos quando eles nascem pesam, hoje, muito menos, do que os dólares que se impuseram como a moeda de compra e venda do petróleo. É neste patamar que deve equacionar-se a importância de uma moeda como o euro e, consequentemente, o que deve ser feito para a consolidar.
É bom recordar que o Barão de Forrester morreu afogado no Douro, no Cachão da Valeira, por ter naufragado com um cinto repleto de moedas – libras de ouro, diz-se. As moedas pesadas nem sempre são salvadoras.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
Luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 09 de Setembro de 2011 no Diário de Notícias