Sirvo-me, muitas vezes, da memória que tenho do Jogo Banco Imobiliário, entre nós conhecido pelo Jogo do Monopólio, por nela guardar a imagem do esplendor das principais ruas das principais cidades portuguesas (Rua Augusta, Rua de Santa Catarina, Rua Ferreira Borges), algumas das quais, infelizmente, hoje desérticas e com imóveis a carecer de profundas reabilitações.

Hoje, os tabuleiros actualizados desse notável jogo referem outras ruas, outras praças, outros centros das mesmas cidades, embora o tempo deva ser o da recuperação dos velhos tabuleiros, exercício só possível se se investir na reabilitação e na regeneração urbanas, sem que tenhamos de pagar uma taxa de luxo como aquela que pagávamos quando caímos em certa “casa” do Monopólio.

Como, ainda não há muito tempo disse, por outras palavras, investir na reabilitação dos centros urbanos é uma certeza e um dos caminhos de um imobiliário convocado para a recuperação económica. É assim no mercado imobiliário de  Espanha, fortemente atingido pela crise financeira, onde a anunciada reabilitação de quase meio milhão de edifícios, até 2012, criará 350 mil empregos para o sector. A emendar erros de um passado recente em que se construíram quase 3 milhões de fogos e se reabilitaram apenas 100 mil.

Em Espanha, como muito bem referiu, em declarações citadas pelo El Pais, o presidente do Conselho Superior de Arquitectos (um cargo equivalente ao de bastonário da Ordem dos Arquitectos), em Espanha, disse Jordi Ludevid, jamais voltará a haver vontade e condições para se construir 740.000 fogos novos num único ano. E o realismo dos nossos vizinhos é tal que a reabilitação urbana é um dos pilares do anteprojecto de lei para uma Economia Sustentada.

Madrid, ao apontar para que a reabilitação urbana corresponda, a médio prazo, a 35% do investimento imobiliário, quer aproximar-se da tendência europeia nesta matéria. Na Alemanha, por exemplo, esta percentagem situa-se, actualmente, nos 62 %. Na Europa moderna, na Europa que se assume como o motos da União Europeia, investe-se mais na reabilitação do que na construção de novo. Com apoios efectivos e inteligentes do Estado, isenções fiscais, IVA mais baixo para a rebilitação, etc, etc.

Noutras latitudes porém, como em Portugal, ainda há quem pense que é possível, no que toca à habitação e aos espaços urbanizados para populações significativas, ter uma atitude semelhante à atitude dos consumidores, que sonham poder  aplicar a tudo, o velho sonho consumista do “usar e deitar fora”. Como se as casas pudessem ser usadas e deitadas fora, como quem deita um televisor de válvulas, um computador lento ou um frigorífico que deixou de arrefecer, num cemitério de automóveis…Já nem estes objectos podem ser usados assim.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 7 de Abril de 2010 no Público Imobiliário

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