Mesmo tendo em conta a boa conta que as actuações do FMI em Portugal encontraram junto de alguns especialistas, como Sarsfield Cabral para quem essas duas intervenções (em 1977 e em 1983) foram dos poucos êxitos da organização no Mundo, mesmo assim é de esperar que a excepção seja a regra e que nesta caso haja duas sem três.

É de esperar que o Fundo Monetário Internacional (FMI) não confirme, em Portugal, esse ditado popular segundo o qual não há duas sem três, ficando-se pelas duas intervenções passadas, sem a terceira, pois sabemos que as receitas desta organização, criada no final da Segunda Guerra Mundial, apontam, quase sempre, para um apertar do cinto muito espartano.

O dinheiro que o Fundo Monetário Internacional possui para acudir às emergências que a ele recorrem, provém dos contributos dos 185 países que o integram, num processo que está longe de contemplar a máxima “um país um voto” para optar por uma responsabilidade assumida na proporcionalidade dos contributos – noutras palavras os países ricos, que são os que mais emprestam, são também os que mais mandam na hora de impor condições .

Neste quadro, torna-se mais fácil que as condições para a concessão do crédito (e trata-se de conceder crédito com condições) contemplem mais os interesses de quem empresta do que os objectivos assumidos pelo FMI, isto é, promover o emprego e o crescimento económico sustentável a par da redução ou mesmo erradicação da pobreza, objectivos autoproclamados que nem sempre são exequíveis.

Mas até pode ser que, desta vez, haja duas sem três. Para já ainda depende só de nós.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 9 de Outubro de 2010 no Expresso

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