Nos últimos tempos, são recorrentes os sinais de que a crise e a austeridade que o país hoje atravessa, estão a tornar-se cada vez mais insustentáveis para muitas das famílias portuguesas.

Tão insustentáveis, que nos deparamos muitas vezes com notícias que deveriam enquadrar-se na secção de “insólitos” dos nossos jornais, mas que infelizmente se tornam cada vez mais habituais.

Na última semana, surgiu a notícia, de que há hoje presos que preferem recusar as suas saídas precárias, mesmo apesar das escassas condições que existem nas nossas prisões. Que sinais são estes, num país que viveu quase meio século, despojado das liberdades cívicas, com uma população prisional constituída por presos políticos e presos de delito comum?

Infelizmente, a resposta não é difícil de descobrir. As dificuldades financeiras das famílias são tantas, que muitas deixam sequer de ter condições de receber os reclusos. E estes, reconhecem que no estabelecimento prisional em que estão inseridos, têm pelo menos a garantia de receber refeições, assistência médica e outras “regalias” que se tornaram bem mais difíceis de receber cá fora.

Muitos, como afirmou Jorge Alves, do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, “preferem até ficar em reclusão do que virem para uma liberdade muito condicionada pela deterioração das condições económicas”.

Aqui, a notícia da recusa das saídas precárias por parte de alguns presos, alegadamente resignados à prisão pela simples e triste circunstância desses presos só na prisão conseguirem ter a certeza de que conseguirão alimentar-se, é um sinal que saiu do anedotário para a realidade. A prisão, com tudo o que ela significa de privação (e não apenas da privação da liberdade), chega até parecer menos dura. Quase suportável. Quase desejável.

A imagem da noite, de uma longa noite, tantas vezes evocada relativamente ao tempo da ausência das liberdades cívicas e democráticas, volta a ganhar força nesta ausência de perspetivas para o crescimento económico e para a criação de condições para que voltem os bons dias.

Falta saber se a noite será mais longa ou se começará a raiar a madrugada e a iluminar as promessas de um novo dia onde cá fora, entre nós e em liberdade, volte a ser bom dia.

Na verdade, isto também depende de nós, especialmente daqueles que não se resignam a viver permanentemente de noite, às escuras, aceitando, quase por inércia, a saudação de um bom dia quando os bons dias continuarão a estar longe por muito tempo, se não contrariarmos este tempo.

Luís Lima
Presidente da APEMIP e da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 14 de dezembro de 2012 no SOL

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