Ouço ocasionalmente numa emissora de rádio uma crónica de cariz político onde o cronista compara um grupo económico português que tem estado nas bocas do Mundo ao Titanic, comparação que, por estranha coincidência, tinha lido, numa outra crónica, esta da Imprensa escrita, na pena de outro autor que também elegia este grupo para o tema da reflexão.
Como dificilmente acredito em coincidências, posso pensar que a mesma comparação, utilizada por pessoas diferentes em diferentes suportes mediáticos, pode ter resultado de alguma sugestão, consciente ou inconsciente, a apontar o dedo ao referido grupo económico, e por arrasto, a uma importante instituição bancária do grupo, com a facilidade com que diabolizamos a banca.
Com uma opinião pública escaldada por escândalos, nacionais e estrangeiros, a envolver variadas instituições financeiras (a mais famosa das quais – o Lehman Brothers – é tida como a mãe da presente crise mundial) torna-se fácil crucificar qualquer banco, desde logo quando não temos o hábito de lhes conceder o mínimo benefício da dúvida.
Isto, mesmo que seja o banco que ganhou a preferência de mais de metade das pequenas e médias empresas ou mesmo que a tutela garanta que os problemas existentes no grupo e em algumas empresas do grupo não afetam a solidez do banco do grupo. A transparência levada ao extremo pode transformar-se numa verdadeira opacidade e esta sim é que pode minar a confiança que o país precisa nesta hora de retoma.
Sem inviabilizar o controlo que nas sociedades democráticas todas as instituições, sem exceção, têm de aceitar, importa garantir que em nome desse controlo necessário não sejam também desencadeadas ações que desestabilizam mais do que controlam, podendo inclusivamente lançar um caos incontrolável em alguns sectores.
Renomear uma instituição financeira com o nome do navio considerado indestrutível que há um século naufragou no Atlântico Norte após ter sofrido um rombo num choque com um icebergue também ajuda a abalar o bom nome do banco e contribui para alimentar dúvidas que podem rapidamente avolumar-se e funcionar como uma cortina de fumo que mascare a realidade.
O manancial de informação difusa que envolve este acaso mediático é um enorme buraco negro que objetivamente favorece aqueles que possam estar interessados no afundamento de um gigante, sob o olhar atento e a ajuda desinteressada das agências de rating. A desinformação favorece aqueles que querem o colapso de tudo e todos, numa aproximação ao que poderíamos chamar de política de terra queimada.
Sem prejuízo, repito, dos esclarecimentos cabais e exaustivos que qualquer indício menos bom sempre deve merecer, em especial e por força da lei num Estado de Direito, a verdade é que a nossa Economia irá demorar muito mais a recuperar, como importa que recupere, se alimentarmos o lume brando ou as águas mornas em que gostamos de aquecer ou de banhar certas dúvidas, ou certas divergências ou até mesmo certas invejas crónicas.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 18 de julho de 2014 no SOL