O insuspeito economista e professor de Economia Paul de Grauwe, que entre outros reconhecimentos tem assumido o papel de conselheiro para os assuntos económicos da Comissão Europeia, diz que foi um erro Portugal ter tentado ser o melhor aluno da ‘troika’ para vencer, nas palavras dele, o concurso de beleza da austeridade.
Paul de Grauwe reconhece que Portugal tinha obrigatoriamente de levar a cabo medidas para reduzir a despesa, mas estas deviam ter sido negociadas para se estender durante mais tempo, para suavizar o impacto económico, agravado pelo facto da própria austeridade estar a ser imposta a demasiado países europeus em simultâneo.
Nas palavras deste economista que a Comissão Europeia ouve, “Portugal e outros países do Sul da Europa deviam unir-se e dizer que a maneira como os tratam não é aceitável”. O economista lembra que quando Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha estão em modo de austeridade, os outros países do Norte da Europa deviam como contraponto estimular a economia.
Se os países com contas públicas mais fortes tivessem fomentado a expansão, isso contrariaria a contração orçamental dos países da periferia, equilibrando a economia europeia. Esta verdade traduz-se, em números, no excedente comercial da Alemanha, que, recentemente, atingiu um valor nunca visto de 20,4 mil milhões de euros.
Este problema não é só uma preocupação para a Europa. O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos já criticou a Alemanha por fomentar excessivamente as exportações. Críticas que o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) também formula quando diz que a Alemanha contribuiria para estabilizar a economia da Zona Euro se aumentasse o consumo interno.
O que Grauwe ao fim e ao cabo disse foi o óbvio: que em recessão os países devedores não conseguem gerar riqueza para pagar as dívidas e que estas não são da responsabilidade exclusiva de quem deve mas também de quem empresta, sendo do interesse de ambas as partes um acordo pragmático para garantir que as dívidas venham a ser pagas.
Outro aspecto interessante das reflexões tornadas públicas deste economista, acérrimo defensor do sistema capitalista, é a ilusão de que as reformas estruturais em Portugal possam resolver os nossos problemas, especialmente se, ao mesmo tempo, se ignorar que a falta de procura interna provoca uma recessão da economia.
O problema não está do lado da oferta, diz. O problema está do lado da procura, confirma. E reconhecendo que eficiência é importante recorda que se a procura baixar a Economia não cresce e nada se consegue. Uma ideia perfilhada por outra grande economista, o Nobel da Economia 2011, Joseph Stiglitz, um norte americano para quem é evidente que a crise se agrava se a procura continuar a descer.
Esta é a beleza encantadora da austeridade, uma solução que a agravar-se tornará a nossa dívida insustentável, ou seja, impossível de pagar, com prejuízos para quem deve e para quem emprestou. A austeridade excessiva inviabiliza o crescimento económico, como tem sido dolorosamente comprovado.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 13 de Novembro de 2013 no Público