Em centros turísticos de grande dimensão, como por exemplo os de Albufeira e Vilamoura, é obrigatória a existência de uma oferta hospitalar digna deste nome. Não basta encaminhar os doentes, os beneficiários, os utentes ou os clientes (conforme o estatuto que lhe queiramos dar), para um grande hospital como o de Faro, por muito bons que sejam os acessos à capital algarvia e as valências desta unidade hospitalar central.

Importa reflectir sobre a inexistência, no Algarve e no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, de uma rede hospitalar assistencial adequada às exigências de uma enorme população flutuante durante a chamada época alta, carência que também se verifica na oferta privada. O turismo do Algarve está, assim, amputado de um dos principais pilares para um turismo de qualidade – o da fiabilidade e da capacidade na resposta médica assistencial.

Este factor é, seguramente, um dos mais importantes para qualquer índice de desenvolvimento em qualquer região (mais ainda nas regiões com vocação turística), pelo que, a aposta nesta oferta, nem no âmbito do SNS pode ser considerado um custo. É, pelo contrário, um investimento obrigatório se se quiser realmente considerar o turismo como um dos pilares fundamentais para a desejada recuperação da nossa Economia.

A Medicina do Viajante não se resume à importantíssima quimioprofilaxia da malária, completamente desnecessária no Algarve, nem às prevenções aconselhadas ou obrigatórias face a potenciais perigos de febre amarela, dengue ou encefalite japonesa, para citar apenas três situações potencialmente perigosas que não se verificam em Portugal. Mas uma oferta assistencial completa, fiável, de rápido acesso e com as valências comuns é indispensável em qualquer destino turístico.

Com altos e baixos, mais baixos do que altos, esta sempre foi uma das crónicas carências do Algarve como um dos principais centros turísticos portugueses. Ora, num momento como o que vivemos, em que o nosso Turismo quer apresentar-se como alternativa real aos turistas que demandavam o Norte de África, mas agora temem esses destinos pela instabilidade social e política ali instalada, não podemos descurar qualquer dos trunfos de uma oferta turística irrepreensível.

O bom turismo requer sempre uma boa medicina para o turista. E uma boa medicina para o turista não é apenas a chamada boa Medicina do Viajante, uma consulta que procuramos ou devemos procurar quando nos preparamos para viajar rumo a destinos onde existem doenças graves, como a mortífera malária quando não prevenida ou tratada. Um destino turístico sem uma oferta hospitalar digna desse nome, também pode morrer, especialmente na Europa. 

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 09 de Setembro de 2011 no Sol

Translate »