O crédito à habitação está a voltar ao mercado português. Não com a mesma facilidade dos tempos fáceis, que também contribuíram para a instabilidade financeira que todos testemunhamos nos últimos anos, mas com números significativos, números que, segundo dados recentes do Banco de Portugal, já estiveram próximos da concessão de 20 milhões de euros por dia, valor atingido  em Junho de 2016, o maior desde Março de 2011.

Prova de que o negócio está a voltar ao mercado é a competitividade que se verifica entre instituições financeiras, nomeadamente no que toca aos valores dos spreads e até à crescente publicidade em torno das próprias opções de oferta de crédito para aquisição de casa. Sem prejuízo das naturais cautelas, nomeadamente no que toca á taxa de esforço de quem pede crédito e à percentagem máxima a conceder em função do valor total do imóvel a adquirir.

Claro que há sempre quem olhe para esta realidade por prismas mais negativos, alertando para os perigos do sobre-endividamento, lembrando que os mínimos históricos das taxas Euribor não irão manter-se eternamente neste patamar e até para o risco de tomarmos como segura a emergente retoma económica, ainda de consolidação fresca. Hoje, felizmente, a banca, até por interesse próprio,  também está na primeira linha destas cautelas e isso deve ser sublinhado 

Como deve ser sublinhado, ainda segundo os dados do Banco de Portugal que a percentagem de famílias com crédito vencido diminuiu em Julho relativamente a Junho. Foi uma diminuição de apenas 0,1 % mas foi uma diminuição. Lembro o que há anos vimos lembrando, mesmo em plena crise do imobiliário mundial – o imobiliário português tem capacidade para crescer de forma sustentável. Oferecendo a quem nele investe transparência e confiança.

Há nesta realidade da crescente e prudente dinamização do mercado imobiliário português o conforto de vermos que ele está a atrair investimento estrangeiro, mesmo de cidadãos de países europeus, e de estar a assumir-se como alternativa credível e segura, perante a descrença instalada noutras opções de investimento, no passado mais procuradas. O sector imobiliário, nomeadamente em Portugal tem um enorme potencial de valorização. É justo reconhecê-lo.

Como também é justo reconhecer que este evidente regresso ao crescimento por parte do mercado imobiliário português também pode assumir-se como um dos pilares da recuperação da nossa Economia. Sem sombras de pecados, sem os espectros das bolhas que afectam outros mercados e com a garantia de que esse crescimento está a ser feito em nome da promoção de  melhorias no parque habitacional, pela via da Reabilitação Urbana e, até, na consolidação das economias verdes.

É também por estas razões, essencialmente por estas razões e com estas certezas, que o crédito para a habitação volta a ser negócio para a banca, como as subidas nas avaliações bancárias de imóveis e as descidas dos spreads indiciam. Cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém mas eternizar dietas radicais sim, pode ser fatal.

 

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com

 

Publicado no dia 5 de Setembro de 2016 no Jornal i

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