Às vezes, em certos momentos, temos de ter a coragem de reinterpretar tudo, até os ditados populares que, mesmo populares, não são garantidamente certos. Digo isto a pensar nesse adágio bem conhecido que dita que na casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão. Na verdade, olhando para a nossa casa, apetece dizer que, agora, onde há pouco pão muitos ralham com razão. O problema está em saber quem terá mais razão.

A situação económica e financeira do pais, que gerou o que se sabe, trouxe uma série de receitas, todas elas baseadas em muita austeridade, mas trouxe também outros tantos alertas contra o excesso destes remédios na cautelar prudência de quem sabe que há limites para tudo, nomeadamente para a capacidade  de suportar sacrifícios. Neste confronte de posições todos terão alguma razão.

A linguagem dos limites para os sacrifícios tem sido, entre nós e por diversas vezes, utilizada pelo Senhor Presidente da República num quase permanente aviso à governação que, embora sem afrontar a Presidência da República, tem aceitado (com risco, resignadamente e até com mais ousadia do que os mentores da Troika) as receitas de austeridade que pretendem curar a nossa Economia mas que também estão a gerar algum atrofiamento.

Esta evidência – válida para estas duas posições claramente diferenciadas – reforça aquela ousadia politica que reside na reinterpretação de verdades tão absolutas como são os ditados populares, ousadia que nos leva a pensar que pode haver alguma razão em todos os que ralham e que é na bissetriz destas posições que residirá o caminho mais avisado para nos retirar da situação que vivemos e nos colocar, de novo, a crescer.

Sem alimentar quaisquer polémicas próprias das disputas politicas e sem olhar para as diferenças de opinião, saudáveis em Democracia, com segundas, terceiras ou quartas intenções no quadro das várias agendas que se cruzam aqui e agora, quero sublinhar uma realidade  indesmentível – que nenhum país cresceu e entrou em rota de desenvolvimento com o empobrecimento das populações e o colapso das classes médias.

Há pois necessidade de conter a própria necessidade de contenção.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 09 de março de 2012 no Diário de Notícias

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