A arte de comunicar é difícil. Dizer, por exemplo, que no primeiro trimestre do corrente ano já foram registadas em Portugal quase trinta mil transações imobiliárias de alojamentos familiares e que estes números são 15% superiores aos registados no primeiro trimestre de 2015 é o mesmo que dizer que em Portugal estão a vender-se, por dia, mais de três centenas de casas.

Entre trinta mil num trimestre ou trezentas e tal por dia, todos os dias, a percepção do que está a acontecer no sector pode ser diferente. Trezentas e tal por dia, todos os dias, parece um pouco mais do que trinta mil num trimestre e, no entanto, as duas leituras correspondem a interpretações rigorosas da realidade do sector imobiliário em Portugal.

Este está a crescer e, como gosto de dizer, comparando o comparável, em valores muito significativos que podem fazer de 2016 um ano muito decisivo para o sector imobiliário. Os números agora apurados só têm paralelo em 2010 quando o crise já desnorteada ainda não se fazia sentir como viria a acontecer nos anos seguintes, em especial nos anos da presença da Troika em Portugal.

Tudo isto, temos de o dizer, resulta de uma inequívoca dinamização do mercado interno a que devemos somar investimentos estrangeiros direccionados para este sector, em alternativa a outros investimentos, outrora apetecíveis pela rapidez de retorno, mas hoje menos fiáveis pois são também, como dolorosamente os últimos anos o provou, muito voláteis em tempos de crise, especialmente quando comparados com a solidez do imobiliário.

Um imobiliário atento aos perigos das bolhas; preocupado com a sustentabilidade das economias e virado para os crescimentos possíveis, ou seja, para a Reabilitação Urbana, para o Turismo Residencial, para o Arrendamento Urbano por exemplo como complemento de reforma de quem conseguiu amealhar o suficiente para uma aplicação neste mercado.

Como qualquer mercado, importa – e muito – que o imobiliário possa apresentar-se, interna e externamente, com uma imagem positiva de transparência e confiança. A alma deste negócio já não é o segredo mas sim a transparência. A alma deste negócio ainda – volto a frisar – com espaço de crescimento, na promoção de  melhorias no parque habitacional e na consolidação das economias verdes, está nesta assunção de sustentabilidade.

Assim se percebe o impacto positivo da notícia que destaca a realização, em Portugal, de mais de trezentas transações imobiliárias, todos os dias, neste ano de 2016. Um ano que ao apresentar um primeiro trimestre imobiliário assim prepara-se para ser um grande ano de recuperação deste sector que tanto tem resistido e contribuído para gerar mais riqueza entre nós.

A questão é saber se conseguiremos resistir à tentação de deitar tudo isto a perder, com o agravamento das já bem conhecidas gulas fiscais e com outros tiros no pé, também muito habituais entre nós. Mas isso é outra conversa que já transcende o mercado.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 27 de Junho de 2016 no Jornal i

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