Num passado ainda relativamente recente, a persuasão pela palavra exigia eloquência e esta característica da linguagem era um dos pilares mais significativos da política.

Não irei tão longe como George Orwell, para quem “a linguagem política visa transformar a mentira em verdade e fazer com que o crime seja aceitável e respeitável e com que o vento pareça sólido”.

Mas recordo que a morte de Júlio César, a golpes do punhal de Brutus, foi justificada pelo próprio carrasco como um bem para Roma, na medida em que pretenderia evitar o excessivo poder de César.

Os romanos, no entanto, só aplaudiram este tese enquanto não ouviram Marco António que incorporou no seu discurso emoção quanto baste, para virar a opinião pública de novo contra Brutus.

Hoje, na época de um globalização muito dominada pelas mensagens fragmentadas da televisão, o discurso emotivo sobrepõe-se, mais do que nunca, ao discurso racional, numa contradição insanável.

Sabemos que não basta ter razão ou estar do lado da razão para chegar às multidões, especialmente quando aceitamos que hajam guerras humanitárias e bombas que matam cirúrgica e inteligentemente.

Por isso, está também na hora, nesta hora muito especial e crítica, de optar por uma linguagem politica clara e acessível a todos, com palavras que mantenham o significado habitual.

É isso que se exige hoje, nomeadamente nos múltiplos e cruzados debates políticos, empenhados em preencher um estranho e desmoralizante vazio que ameaça instalar-se na nossa vida pública.

Precisamos de saber, com clareza, com o que podemos contar em todos os sectores da nossa sociedade. Eu, naturalmente, puxo a brasa para o sector da Construção e do Imobiliário.

Isto exige uma comunicação adequada aos nossos dias, isto é, uma comunicação clara que responda às nossas angústias e preocupações e que aponte claramente alguns dos caminhos a seguir.

Por exemplo, se podemos apostar a sério na reabilitação e regeneração dos centros urbanos e se este projecto é ou não um projecto prioritário, também para iniciar uma recuperação que tarda.

Na verdade, o pior que nos pode acontecer é que aquilo que consigamos mudar seja apenas o quanto baste para que tudo continue na mesma. Não pode ser, é preciso que muita coisa mude.

Por exemplo, a própria linguagem e clareza dos debates políticos que, nesta hora muito especial e critica, se querem, realmente, mobilizar-nos para construir o sucesso que apregoam e sonhamos.

Luís Lima
Presidente da APEMIP

Publicado dia 20 de Maio de 2011 no Sol

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