Estou sempre muito atento às opiniões sobre o Oriente que me chegam, especialmente se são apresentadas por pessoas que têm a obrigação de saber mais do que eu neste campo, como é realmente o caso do Dr Carlos Monjardino, presidente da Fundação Oriente, presidente do Banco Português de Gestão e alguém reconhecidamente mais conhecedor dos povos orientais, especialmente o povo chinês.

Em recente entrevista, este político português, que chegou a pensar candidatar-se à Presidencia da república Portuguesa nas eleições de 2006, reconheceu que há uma relação particularmente boa entre a China e Portugal, atribuindo-a ao longo período de relacionamento existente entre os dois povos e ao facto de termos sido nós os primeiros europeus a entrar em contacto com aquele vasto país.

Os chineses – disse o Dr Carlos Monjardino nessa entrevista – elegeram Portugal como porta de entrada na Europa, não apenas, continuo a citar, pelo facto de sermos dos países europeus com um custo de vida mais barato, mas principalmente por sermos,  entre os povos ocidentais, os  mais chegados à China e pelo facto de, tradicionalmente, recebermos bem toda a gente, prática que é reconhecida há longos anos.

Basta recordar a forma exemplar como o território chinês de Macau deixou de estar sob administração portuguesa para passar a ser uma Região Administrativa Especial da República da China, num processo muito mais sereno, pelo menos mediaticamente,  do que o de outro território chinês sob administração estrangeira, nomeadamente o mais conhecido de todos que passou a ser também uma Região Administrativa Especial da China dois anos antes de Macau.

Infelizmente, este bom relacionamento corre o risco de viver tempos difíceis se Portugal gorar as expectativas geradas em muitos investidores chineses interessados no nosso país, insistindo em dificultar a concessão das Autorizações de Residência que são atribuídas aos responsáveis por investimentos a partir de certo montante, no âmbito de um programa – o dos vistos Gold – que fomos nós a lançar para captar esse e outros investimentos externos.

Em boa verdade, é difícil compreender que o país tenha criado estes programas e tenha apostado na sua divulgação além fronteiras para depois boicotar a respectiva concretização desses investimentos, sob pretextos que soam a desculpas de mau pagador como foi a da ausência de uma regulamentação para as últimas alterações legislativas ao próprio programa. Alterações supostamente assumidas para melhorar o programa.

O programa em causa não se destina exclusivamente a chineses mas estes, que estão no topo da procura deste tipo de investimentos, dificilmente continuarão a olhar para nós como um dos povos com os quais melhor se relacionam se as nossas promessas, neste caso do nosso próprio interesse, sairem furadas. Não há ninguém, por mais paciente que seja, capaz de aguentar compassos de espera de meses, quando a espera prometida era de duas ou três semanas.

Isto, sem esquecer que o investimento estrangeiro assim potencialmente desperdiçado, um investimento que no seu total ascende a milhões, é um investimento que faz falta a Portugal, nomeadamente ao sector imobiliário que, sem ele, corre o risco de ver aumentar os níveis de desemprego do sector, por muito que alguns finjam que o imobiliário não gera riqueza nem garante emprego.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 15 de Fevereiro de 2016 no Jornal i

Translate »