A perspetiva de um aperto ainda maior em matéria de financiamento da Economia, para as empresas mas também para as famílias, em especial aquelas famílias que procuram crédito para aquisição de habitação e, assim, contribuem para o crescimento e desenvolvimento económicos, a perspetiva de restrições ainda maiores neste campo é uma péssima notícia para todos e merece que se faça tudo o que seja legítimo para a contrariar.
Como tem vindo a ser tornado público, é a própria banca que admite, nas perspetivas para 2012, cortes muitíssimo maiores, três ou mais vezes maiores, do que os verificados em 2011 no financiamento da Economia. Em nome, registe-se, da imposição externa sobre as instituições financeiras que determina um rácio crédito/depósitos muito mais apertado para vigorar o mais depressa possível.
Se se mantiver a tendência para que o pouco financiamento disponível seja utilizado pelo Setor Empresarial do Estado, que, diga-se de passagem, também carece de financiamento, em especial quando desempenha, em épocas de aperto, o importante papel de quase único investidor, então as perspetivas para o setor privado e para as famílias são desastrosas.
Esta, para alguns, inevitabilidade no aperto ao financiamento da Economia é o resultado de opções que privilegiam os problemas que afetam o Sistema Financeiro, descurando, um pouco, a chamada Economia real, que toca diretamente na generalidade das pessoas. O sistema financeiro tem de voltar a assentar em bases sólidas, depois do susto a que certas aventuras de engenharia financeira o levaram, mas importa não virar as costas ao mundo real.
Acresce – embora, de facto, não seja muito elegante estar sempre a lembrá-lo – que foi esse mundo real, dos contribuintes sem alternativa, como são os da classe média, quem mais contribuiu e está a contribuir, sofrendo austeridades poucas vezes vistas, para salvar o sistema financeiro, em nome desse altruísmo permanente que se esconde sob a expressão “para evitar males maiores”.
Sacrificando algum mercado e, em consequência, a procura interna, mas sacrificando também, o que é mais grave e perigoso a própria possibilidade de desenvolver outras saídas, como a eterna solução da exportação, as restrições ao financiamento, uma verdadeira segunda fatura para quem já está a pagar a fatura da salvação do sistema financeiro, podem gerar um retraimento sem retorno, de consequências drásticas a longo prazo, até para o sistema financeiro.
Por tudo isto, dizer que as notícias que falam num aperto ainda maior em matéria de financiamento da Economia para as empresas e para as famílias é uma má notícia, que merece que se faça tudo o que seja legítimo para a contrariar é ainda pouco. Em causa pode até estar o crescimento e o desenvolvimento económicos do nosso próprio país e sem um mínimo crescimento pouco interessa que o rácio crédito/depósitos esteja no patamar que nos estão a exigir. Comprometendo, seriamente, as nossas próprias soluções para sairmos da crise onde nos colocaram.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 23 de Janeiro de 2012 no Jornal i