Quando falamos em mercados, neste contexto em que a Economia nos envolveu, não estamos a falar em espaços como o do Mercado da Ribeira, o velho Mercado Abastecedor de Lisboa, hoje Centro de Artesanato e Cultura Popular, que aos domingos ainda recebe algumas bancas de comércio tradicional e que ainda mantém, durante a semana, o tradicional comércio de flores.

Aqueles mercados onde Portugal às vezes anuncia que vai, especialmente quando supõe que vai ter sucesso, não oferecem flores. Nem sequer as vendem. Vendem, ao que dizem confiança (leia-se, emprestam dinheiro), mas a juros que são altos, mesmo quando são apresentados como razoáveis e reveladores da tal confiança que se mede nesses mercados.

Estamos a fazer das tripas coração para agradar a estes mercados, verdadeiras caixas fortes cheias de dinheiro, como só imaginamos quando recordamos os desenhos da Caixa Forte do Tio Patinhas, na banda desenhada do velho Disney, com a diferença, que não é de somenos, da identidade de quem nos empresta, com aquelas condicionantes da confiança, ser quase um segredo de Estado para a maioria dos portugueses.

Com todo o respeito que a linguagem e as leis do Mundo da Economia me merecem, linguagem e leis que enquadram as nossas vidas, tenho de confessar que nesta euforia de informação que vivemos já ouvi muitos portugueses, que ainda vão tendo algumas poupanças de reserva, confessar que aos juros que Portugal está disposto a pagar naqueles mercados também eles emprestavam.

Quem detém dívida portuguesa, mais precisamente  22,8 mil milhões de euros, adquiridos no âmbito do seu primeiro programa de obrigações soberanas, é o Banco Central Europeu (BCE), segundo revelou a própria instituição, a fazer fé nas notícias que dizem que essas aquisições foram efetuadas no tempo de Jean-Claude Trichet e para suavizar os juros das dívidas soberanas.

Uma linguagem que traduz mecanismos bem complexos, pouco acessíveis, por escassez de informação à generalidade da população portuguesa, incluindo uma fatia muito significativa de leitores de jornais (e até de gente que escreve nos jornais), todos, no entanto, conscientes que a tal recuperação da confiança  nos mercados tem sido conquistada pelo apertar do cinto dos portugueses.

Como ainda há dias escrevia o bastonário da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, profissionais que são quase os confessores das nossas empresas e, por inerência, da nossa Economia, num artigo onde lembrava que estamos a viver a maior carga fiscal jamais suportada entre nós, como escrevia o Dr. Domingos de Azevedo, o Governo poderá ter ganho a confiança dos mercados mas poderá também ter perdido a dos portugueses.

Às vezes até parece que há quem se esqueça que são os portugueses quem vive em Portugal, confianças perdidas ou ganhas à parte.

Luís Lima
Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP – 
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 27 de fevereiro de 2013 no Público

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