Se pensarmos bem, temos de admitir que é natural, que o número de transacções imobiliárias baixe de ano para ano, especialmente após um ciclo de enorme construção, como o verificado nos anos de ouro da corrida à habitação, com a abertura ao crédito, com os juros bonificados e, mais recentemente, com uma significativa baixa das taxas de juro.

Esta realidade é, em Portugal, e como se depreende até pelas considerações que se deduzem dos recentes números do Banco de Portugal sobre esta matéria, anterior ao início da chamada crise financeira que se manifestou, em todo o Mundo, no Verão de 2008, e que também afectou o imobiliário.

Mas, crises à parte, o mercado nunca poderia crescer até ao céu, sob pena de se cimentar o pais. Os bens imobiliários são bens duradouros que não se trocam ao ritmo das trocas que fazemos de bens móveis. Os bens imóveis têm ciclos de mudança  muito mais alargados, e que, mesmo na hora da mudança, o bem que se troca será, em princípio, adquirido por outra família.

Refiro sempre, a realidade das famílias quando disserto sobre o mercado imobiliário, pois mercado residencial imobiliário destina-se, grosso modo, a famílias e estas não estão sempre a mudar de casa.  O facto de muitos proprietários terem alargado o prazo de pagamento da respectiva propriedade imobiliária durante décadas, não inviabiliza o desejo de se fazer um  up grade da residência, no quadro do salto do ciclo da quantidade para o ciclo da qualidade. Mas nem de telemóvel mudamos ao primeiro aparecimento de um novo modelo.

Na verdade, se se mantivesse o ritmo de construção dos melhores anos da explosão imobiliária, o país estaria totalmente impermeabilizado de tão cimentado ficar.  Basta referir que, à luz das possibilidade de construção já contempladas nos Planos Directores Municipais, poder-se-ia construir habitações para 40 milhões de pessoas, isto é, uma população quatro vezes maior do que a de Portugal – só a Grande Lisboa passaria a ter 8 milhões de habitantes.

Na verdade, construir menos habitação em Portugal não é crise, é bom senso. O que importa é reconstruir o que está degradado, com novos padrões de qualidade, padrões que também devem aplicar-se à construção nova, que não pode ser mais do mesmo, nomeadamente no que respeita à localização mas, e principalmente, no que respeita ao que pode oferecer-se em matéria de conforto e de durabilidade, num quadro de sustentabilidade ambiental e energética. Sem esquecer que o ritmo, agora, é marcado pela procura e não pela oferta.
 

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 20 de Janeiro de 2010 no Público Imobiliário

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