Temos esta sina, como uma espécie de fado, de passarmos de bestiais a bestas enquanto o diabo esfrega um olho. Vivemos na urgência de quem quer, ou tudo ou nada, e nem desconfiamos quando um dia lemos que as casas vão desvalorizar brutalmente e, no dia seguinte o contrário, nos mesmos títulos, nas mesmas páginas, com o mesmo relevo e sem qualquer pudor.

Já ouvimos dizer – por mais absurdo que seja – que os preços das casas são fixados pelas avaliações em baixa, que a banca encomenda, para decidir se vale ou não a pena conceder um solicitado crédito para habitação. Neste cenário, muito comum, nem se aplica aquele velho ditado, segundo o qual “quem desdenha quer comprar”.

Agora, como quem passa do oito ao oitenta enquanto o senhor diabo esfrega um olho, começamos a ouvir dizer que o preço das casas vai subir, vai subir muito, pois o Fundo Monetário Internacional acha que o imobiliário em Portugal está barato e poderá ser mais esmifrado, que é, como quem diz, mais sugado. Se é verdade, o que duvido, os senhores do FMI foram rápidos em descobrir uma das boas árvores de patacas – o imobiliário.

Mas o imobiliário não é – ou não deve ser – uma árvore das patacas, nem o mau da fita, nem uma varinha de condão. Embora tenha sido tudo isto. Foi e continua a ser uma árvore das patacas, pela via de fiscalidade gulosa sobre o património, foi também o mau da fita, principalmente nos países em que deixou insuflar-se numa especulativa bolha, e até foi e pode ser visto como uma varinha de condão para alguns males.

Logo após a crise do subprime do Verão de 2008, num debate em Nova Iorque promovido por especialistas em Economia das Nações Unidas, o imobiliário foi apontado como dos vectores decisivos para a recuperação económica.

Em países de economia emergente que ainda possuam carências habitacionais graves, o imobiliário como resposta às necessidades básicas da população, nas quais se inclui o direito a uma habitação condigna, pode ser e é um dos motores do crescimento e, desejavelmente, do desenvolvimento.

Noutros países, em que as necessidades neste campo podem ser outras, teremos de olhar de outra forma para o sector da Construção e do Imobiliário. Não podemos construir eternamente, como se fossemos árvores e pudéssemos crescer até ao céu, mas devemos, por exemplo, reabilitar o património construído que deixamos degradar.
Entre nós, a reabilitação dos centros urbanos é uma das vias para a reanimação da Economia Portuguesa, com a vantagem de criar postos de trabalho perdidos. Foi neste espírito – julgo eu – que o Governo anunciou, recentemente, incentivos à reabilitação urbana e à reanimação do mercado de arrendamento urbano, tese que encontra eco na maioria dos partidos da Oposição.

Por este sonho da reabilitação é que vamos, mas sem necessidade de distorcer o mercado, valor que os senhores do FMI muito prezarão.

Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP

Publicado dia 20 de Abril de 2011 no Público Imobiliário

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