Gostaria de perguntar a Martin Wolf, jornalista do Financial Times. Economista da escola de Oxford e antigo quadro do Banco Mundial se o encerramento da ligação ferroviária entre o Porto e Vigo é um decisão aceitável, mesmo em nome de uma situação de crise que exige austeridade e poupança?

Sei, de antemão, que ele defende outras soluções para a crise e que responderia que estas só se superam com receitas que não se limitem às velhas e austeras sangraduras, remédio medieval do qual ainda há testemunhas vivas e remédio que se aplicava com o arrepiante auxílio desses anelídeos que conhecemos como sanguessugas.
 
Martin Wolf escreveu há dias, numa das suas colunas habituais, algo que me parece tão óbvio que nem precisaria do prestígio deste economista para ser aceite como verdadeiro, isto é, que a contracção monetária e orçamental dificilmente poderá levar ao aumento do investimento. 
 
Paralelamente – refere ainda Martin – a redução dos lucros implicará, muito provavelmente, uma queda do produto e esta a “impossibilidade de se reduzir o encargo da dívida através de rendimentos reais mais altos”. Esta é uma opinião, insuspeita, que merece alguma reflexão da nossa parte.
 
Voltando ainda àquela má notícia que foi o anúncio do encerramento da ligação ferroviária entre o Porto e Vigo, cito, de cor, um político galego que comentava, agastado, a decisão da CP, dizendo não compreender como poderiam os portugueses cometer o erro de pensar que bastará poupar para superar a crise.
 
Poupar é preciso, mas tão importante como cortar nas despesas é saber como e onde investir. Sem esta vertente da solução, os cortes servem apenas para empobrecer uma população e um país e não oferecem qualquer janela de oportunidade por onde entre uma luz, ténue que seja, de esperança num futuro que todos queremos rápido.
Não se trata de fazer uma fuga para a frente. Trata-se de viabilizar o nosso futuro sem deixar cair no esquecimento, como já aconteceu no passado, uma estação ferroviária mítica, como era a de Barca d’Alva, que não fica no caminho-de-ferro que liga o Porto a Vigo, mas fica noutra linha desactivada pela CP.
 
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt 
 

Publicado no dia 8 de Julho de 2011 no Diário de Notícias

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