Cruzam-se, nos últimos tempos, dezenas de notícias que ostentam em título a palavra mágica crédito. Nuns lê-se que a procura de crédito à habitação diminuiu, noutros que as prestações devidas pelo crédito voltaram a subir ou que as margens de lucro dos bancos nestas operações têm vindo a subir. O crédito está no coração do mercado mas a grande questão é, para os particulares, tal como para os estados, saber se temos ou não crédito.

Muitos Estados, incluindo o Estado Português, endividaram-se e comprometeram-se também para garantir que a banca, o sistema financeiro, não perdesse a cara com os buracos que foram provocando numa velha espiral alucinante de negócios que nós, por cá, sabíamos desastrosa pelo menos desde que se descobriu, tarde e a más horas, o colossal embuste com uma tal Dona Branca arruinou muita gente.

Um arrependido do sistema, bancário norte-americano, compara o que aconteceu na generalidade dos sistemas financeiros das economias de mercado a um hipotético viciado apostador de corridas de cavalos que depois de apostar mundos e fundos e de os perder sem apelo nem agravo consegue que alguém se disponha a cobrir as respectivas dívidas sem exigir qualquer compensação.

A comparação, dura, que anda por aí, nos jornais e noutras redes sociais, poderá ser exagerada ou pecar por omissão, escondendo aspectos que podem ser considerados atenuantes, mas, na prática, traduz o que se passou no mundo financeiro nestes loucos anos que temos vivido. Grosso modo, passamos uma esponja sobre passados pouco claros e dispusemo-nos a efectuar transfusões vitais para dar novas oportunidades a muito Dona B(r)anca.

Fizemo-lo porque todos nós, em parte, também nos sentimos, em menor ou maior grau, co-responsabilizados por essa loucura colectiva que a ganância pode gerar, circunstância que implica, obrigatoriamente, que voltemos a assumir as nossas vocações essenciais, ou seja, no caso da banca, a de bombear seiva no sistema, a de conceder o crédito que volta a poder conceder, com regras mas sem inviabilizar a própria vida.

Ter ou não ter crédito continua a ser a questão. Se quisermos continuar a viver na matriz civilizacional que fomos construindo no Ocidente num cenário politico teoricamente condicionado à vontade de convivermos em paz no nosso planeta. 

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 06 de Setembro de 2011 no Diário de Notícias

Translate »