Admito, como toda a gente, que gerir um banco não deva ser pêra doce. Especialmente sabendo-se, como se sabe, que é pelos bancos que passa a seiva que alimenta a vida das Economias. Esta certeza desfaz qualquer reminiscência de infância que ainda queira dizer-nos que banco é uma espécie de piscina de notas e moedas de ouro dos depositantes, onde um banqueiro como o Tio Patinhas dos livros aos quadradinhos gosta de banhar-se.
Os bancos assumem a responsabilidade de proteger o dinheiro dos depositantes, com garantias superiores em países civilizados. Nestes países, os Estados, que não abdicaram do papel de regulação e vigilância que lhes assiste, cobrem, pelo menos até determinado montante por cliente (actualmente cem mil euros, na União Europeia), qualquer vicissitude inesperada daquele dever prioritário dos bancos.
Este é o grande argumento para que as pessoas prefiram guardar as respectivas poupanças num banco em vez de as colocar debaixo do colchão, ou numa caixa enterrada no quintal, como se fazia muito antigamente ou como ainda se faz em locais mais afastados da civilização, nos confins de alguns terceiros mundos, onde a selva ainda é muito habitada e a desconfiança é uma constante.
Sabemos – toda a gente entre nós o sabe – que o dinheiro depositado nos bancos é posto a circular pelos próprios bancos, com as adequadas cautelas, presume-se, num circuito que faz funcionar a Economia e, nesta perspectiva, gera riqueza, multiplica-se e ajuda a fazer crescer a própria Economia e com ela o emprego e os níveis de bem-estar das populações onde se incluem todos os que confiam as respectivas poupanças aos bancos.
Tudo isto não será tão linear assim, nem significa que toda a gente tenha de ter acesso ao crédito como agora alertam muitos daqueles que, num passado não muito distante, concederam crédito a torto e a direito sem controlar os riscos das cobranças duvidosas que geraram os subprimes do nosso descontentamento. “Casa arrombada, trancas à porta” é um ditado ancestral que hoje poderia modernizar-se pela expressão “Banco subprimado, crédito amordaçado”
Mas se a prudência é a palavra de ordem, é bom lembrar que a prudência em excesso é um risco de morte nesta importante matéria do financiamento da Economia. Sem o risco inerente ao crescimento do mercado até a poupança das pessoas (e mais ainda das empresas) desaparecerá a médio prazo e com ela o sonho de um mergulho, para alguns estranhamente reconfortante, numa piscina cheia de notas verdes e de moedas de ouro.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
Luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 01 de Novembro de 2011 no Jornal de Notícias e no Diário de Notícias