Há pelo menos um aspecto em que podemos, sem sombra de pecado, revermo-nos no exemplo da Grécia – um dia depois de ter vencido as eleições o partido vencedor apresentava uma proposta de Governo, sustentado num acordo com outro partido, e o respectivo líder, Alexis Tsipras, tomava posse como primeiro-ministro. O novo governo reuniu pela primeira vez em conselho de ministros dois dias depois – algo que Portugal nunca testemunhou em 40 anos de Democracia.

À rapidez com que dois partidos, ideologicamente diferentes, conseguem um acordo para a formação de um Governo de maioria absoluta no Parlamento, soma-se o juramento, sem os formalismos habituais, do novo primeiro-ministro, uma inédita ausência da Igreja Ortodoxa grega na posse do novo primeiro e a não menos habitual passagem de testemunho entre o anterior e o novo Governo feita por assessores. Todos estes acontecimentos mostram que a Grécia não quer e não pode ter tempo a perder.

O que parece unir os gregos em torno das mudanças anunciadas é a vontade de transformar a austeridade em crescimento, objectivo que toda a gente, na Grécia como na Europa que mais sentiu a crise, diz pretender, variando apenas no ritmo preconizado para a mudança, na linguagem com que é defendida politicamente e nas considerações paralelas, internas e externas, sejam de apoios entusiasmados sejam de reprovações radicais.

Nas eleições gregas, como em quase tudo na vida, vale bem a máxima da mãe de um amigo meu que defende moderação quer na hora dos elogios quer na hora das críticas, elogiando ou criticando sempre um pouco menos do que desejamos no primeiro impulso para o elogio ou para a crítica. Sublinhando esta atitude, eu reafirmo o meu aplauso pela rapidez e simplicidade com que se formou um novo Governo para Atenas, seguramente um governo com potenciais efeitos colaterais na Europa que quer sair da crise.

Como cantava em “We Shall Dance” Demis Roussos, um dos gregos mais famosos no Mundo, falecido no domingo das recentes eleições legislativas gregas, “Dançaremos, dançaremos // No dia em que tivermos a chance // De conseguirmos uns trocados para comprar de volta nossas almas”.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Lingua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 02 de fevereiro de 2015 no Diário Económico

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