Como, por diversas vezes e sempre que a oportunidade ocorre tenho vindo a dizer, o tempo que estamos a viver é um tempo de reconstrução no sentido da qualificação do património construído. Estou a falar, naturalmente, de reabilitação urbana e do inevitável crescimento deste segmento do mercado imobiliário. Mas – é bom não esquecer – a reabilitação  urbana, desejavelmente acompanhada de regeneração dos espaços urbanos, não pode ser apenas uma maqueta primorosamente executada a uma escala qualquer, maquete que gostamos de mostrar nos palcos onde falamos de reabilitação.

Como escrevi, neste mesmo espaço, há cerca de um ano, as opiniões favoráveis à reabilitação urbana dos centros das cidades sempre foram (e continuam a ser) praticamente unânimes, contagiando inclusivamente as opiniões dos representantes da Troika, pelo menos nos primeiros tempos, a julgar por algumas inconfidências que então apareciam em alguma comunicação social bem informada. 

Defender o património construído sempre foi e dizem que continua a ser uma ideia muito consensual, que já vem de longe, incluindo do tempo em que alguns profissionais de grande prestígio que entretanto integraram o elenco do atual governo defendiam com entusiasmo este comboio, quase único, para o desempenho do sector na dinamização da nossa Economia numa defesa compatível com o sentido de Estado e a lucidez política que o momento exige.

Sempre se disse que a Reabilitação Urbana (dependente de um mercado de arrendamento mais dinâmico) é um dos raros comboios em que a nossa Economia pode embarcar, neste contexto de dificuldades, nomeadamente no campo da disponibilidade de meios de financiamento. Sempre se disse isso mas o tempo passa e já lá vão alguns anos em que a Reabilitação Urbana vive apenas de muitas e boas intenções. 

Em Março de 2011 – já lá vão dois anos – abriram-se algumas janelas de esperança para esta possível e desejável via do renascimento do sector num quadro de sustentabilidade e de respeito pelo ambiente, mas por esta ou por aquela razão tais expectativas nunca se concretizaram verdadeiramente, embora, de quando em vez, o tema ensaie uma tímida reentrada na agenda política, continuando a reacender as velhas esperanças de sempre.

As mais de três dezenas de candidaturas que se apresentam ao Prémio Nacional de Reabilitação Urbana 2013 nas diversas categorias em que se divide indiciam esta vontade de agarrar a ideia da Reabilitação Urbana como um desafio incontornável para a nossa Economia e para as obrigações que as gerações de hoje têm relativamente às gerações futuras. Mas o risco deste projeto continuar a ser apenas um projeto cheio de boas intenções que proporciona bonitas maquetes ainda é real.

Está mais do que na hora de se fazer uma opção definitiva e visível por este projeto. A Semana de Reabilitação Urbana que marca o início do mês de Abril no Porto é uma das últimas oportunidades para essa definição em tempo ainda útil.

Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP e da CIMLOP – 
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luislima@apemip.pt

 

Publicado do dia 20 de março no Público

Translate »