A notícia de que a banca continua apostada em conceder crédito para a compra de habitação própria é uma boa notícia que não justifica a preocupação dos que sempre agitam o lado mau do endividamento. Há um ano este crédito subia para valores idênticos aos de 2011, o que é ainda muito pouco se nos lembrarmos que a crise desencadeada em 2008 estava no auge, nomeadamente em Portugal, e marcada pela chegada da Troika e pela política de austeridade.

É certo que o sistema financeiro – como coração das economias de mercado – também precisou de tempo para encontrar novos paradigmas de intervenção no próprio mercado, ainda em evolução, sendo até de admitir, por exemplo, que a banca praticamente deixe de remunerar os depósitos a prazo e possa até exigir um pagamento para garantir a segurança do dinheiro nela guardado.

Para os aforradores, ter de pagar, em vez de receber, pelos depósitos é uma fórmula que aponta claramente no sentido de gerar uma maior aposta na Economia. A isto soma-se a tendência para aumentar a concessão de crédito à habitação e a tendência para uma crescente diminuição dos spreads dos bancos, de que o Santander Totta é um dos mais evidentes exemplos.

O ‘spread’ mínimo no Santander Totta – o mais baixo entre as instituições financeiras portuguesas de maior dimensão – baixou para 1,5%, só superado pelo Bankinter (herdeiro dos activos do Barclays) e em clara disputa concorrencial  com a banca que volta a apostar no imobiliário como um negócio importante para o próprio sistema financeiro.

Um negócio que hoje, felizmente, contrasta com os tempos da generosidade  excessiva, até mesmo imprudente, mas volta a assumir-se como uma aposta na Economia e contribui para cortar e inverter o círculo vicioso de estagnação que gera recessão e faz diminuir receitas fiscais, que marcou a opção pela imposição cega de austeridade como remédio para o crescimento.

Já escrevi, neste mesmo espaço, que a vida deve ser vivida com sobriedade, no respeito pela sustentabilidade do nosso Mundo, mas com um mínimo de qualidade para as pessoas em nome das quais fazemos política, construindo e reconstruindo cidades e garantindo cidadanias sem ceder a quaisquer interesses, tantas vezes mal identificados para disfarçarem a respetiva ilegitimidade.

E não há banqueiro de referência que não diga que a recuperação económica passa por uma maior facilidade de acesso ao crédito por parte das empresas com capacidade creditícia, sem prejuízo da manutenção de critérios prudentes da concessão do crédito, capazes de evitar o desenvolvimento de crises financeiras como as que foram desencadeadas em 2008.

Mas de novo a financiar a Economia. Sabendo-se também que o crescimento económico (leia-se crescimento do Produto Interno Bruto e diminuição do desemprego) volta a passar pelo sector imobiliário e que este volta a gerar interesse na banca comercial. É a tal boa notícia de que a banca continua apostada em conceder crédito para a compra de habitação própria, de forma competitiva e sem descurar a prudência que os endividamentos devem conter.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 25 de Junho de 2016 no Sol

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