A palavra sinergia tem múltiplos sentidos – tudo depende de quem a pronuncia, como emissor, ou de quem a lê ou ouve, como recetor. Se, por exemplo, sai numa nota emitida pelo núcleo dirigente de uma multinacional quererá apontar para uma gestão mais eficaz da empresa mas poderá também soar como ameaça de despedimento para quem trabalha em tal grupo, neste ou naquele país.

Todos sabemos que as multinacionais são, quase sempre, mais notícia quando saem do que quando entram em determinada região – quando entram são notícia por servirem de bandeira política a quem lhes facilitou a entrada, o que faz com que a notícia possa confundir-se com propaganda,  mas quando saem são notícia pelo desemprego que geram.

Na verdade, as multinacionais, como quaisquer outras grandes empresas, instalam-se onde haja mercado e onde recebam melhores condições para desenvolver as respetivas atividades mas, na melhor das hipóteses, cumprido que esteja o período de fidelização devido às facilidades recebidas (como na venda de telemóveis topo de gama), saem se houver alternativas mais eficazes.

Ou se não houver mercado, na região e no país onde se instalaram nem todas as multinacionais vão , exclusivamente, à procura de mão de obra mais barata ou de maior flexibilidade nas leis laborais. Também há grandes empresas que se instalam no estrangeiro para melhor conquistarem o mercado que existe nessas paragens para os respetivos produtos.

Nestes últimos casos – que não são tão raros assim -, a perda do mercado local  começa por colocar o centro de decisão da empresa em sinergia com outros centros de decisão, o que significa a sua deslocalização para outro país ou região, podendo, se a procura interna se degradar, evoluir no sentido do encerramento das unidades sediadas onde não há mercado.

A tentação de olhar, em situações desta natureza, para uma grande empresa, multinacional, como a má da fita é tão grande quanto as empresas em causa. Mas estas empresas, muitas das quais cumprem as respetivas obrigações sociais para lá do que é exigido, apenas agem em função do mercado. O problema – percebe-se bem – está nas causas que fazem implodir os mercados.

Esta é a lógica das Economias de Mercado. Ela cruza-se com as opções politicas de cada momento, o que implica, quando não estão em causa alterações radicais, uma visão global da realidade, constituída por empresários e empresas, por sindicatos e trabalhadores e, no seu todo, por cidadãos que são também consumidores e parte interessada nos mercados.

Se estes implodirem, se não houver procura, ou se a procura não tiver capacidade para se assumir como tal, também a produção da oferta fica comprometida, com prejuízo da criação da riqueza necessária a uma equilibrada redistribuição e em benefício de muitas debandadas.

Luís Lima
Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP – 
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 18 de fevereiro de 2013 no Diário Económico

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