De cima do prédio dos Coutinhos, em Viana do Castelo, vê-se o Lima e o mar como poucos edifícios poderão gabar-se. A volumetria do prédio dos Coutinhos é enorme se comparada com todos os prédios vizinhos, numa desproporção visível por todos os olhares em todos os ângulos.
O prédio é um enorme paralelipípedo esbranquiçado cuja única característica diferenciadora reside no volume e na altura, a destoar sem outro mérito que não seja o do gigantismo do casario que o rodeia, casario que mesmo quando precisa de urgente reabilitação mostra outra alma e outro berço arquitectónico.
O Prédio dos Coutinhos em Viana do Castelo está longe de se impor aos vizinhos como o enorme Edifício Torso se impõe em Malmoe, na Suécia, apesar deste ser muito mais alto do que o dos Coutinhos e estar igualmente isolado no meio de casas de baixíssima altura e volumetria.
Claro que o traço de Calatrava no Edifício Torso de Malmoe ajuda muito. Não pela assinatura prestigiada mas pela inegável e reconhecida qualidade artística do projecto que se ergue a 190 metros de altura como um gigante que acabou de dar uma tacada de golfe: daí o nome adoptado.
Ambos – Prédio dos Coutinhos e Edifício Torso – foram projectados e submetidos à aprovação, por quem de direito, no caso do edifício de Viana, a Câmara Municipal, e se começaram a ser construídos sem autorização e sem o controlo dos fiscais, não foi por falta de visibilidade da obra.
Ninguém, ou quase ninguém, pensará demolir o Edifício Torso, embora, em boa verdade, ele apresente uma altura e uma volumetria muito superior à altura e volumetria dos edifícios envolventes, numa disparidade muito maior do que a existente entre o Prédio dos Coutinhos e a malha urbana em que este se ergue.
Dir-se-á que não há comparação possível entre um paralelipípedo como o Prédio dos Coutinhos e um paralelipípedo como o Edifício Torso, este muito mais alto e esguio do que o outro que nesta comparação até poderia parecer atarracado. Não haverá comparação mas toda a comparação é subjectiva.
O que é objectivo é que, uma demolição de um prédio como o dos Coutinhos, que não carece de qualquer obra de reabilitação para cumprir a vocação inicial, isto é, ser habitado, prédio avaliado, no seu todo, em alguns milhões de euros, não seria um sinal aceitável neste contexto de aperto, nem mesmo para a Polis de Viana. Antes dele, muitos outros mereciam ser demolidos e não são.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luís.lima@apemip.pt
Publicado no dia 08 de Novembro de 2011 no Diário de Notícias e Jornal de Notícias